Wednesday, March 09, 2005

Descobertas

Prenda de Natal, festa organizada pela empresa da Mãe. Equipamento completo: microfone, com suporte, imitação de guitarra eléctrica e alti-falante. “Made in China”. Ele, talvez, três aninhos. Ou menos. A guitarra, só com teclas e, algumas, melodias pré-definidas. Coisas de criança, já se vê. Mas ele, fosse qual fosse a melodia, guitarrita a tiracolo, todo debruçado sobre o microfone, gritava, gritava, tal como os rockeiros que via na televisão, fingindo línguas que, tanto quanto percebi, não seriam deste planeta. Punha-nos a cabeça em água, eram horas de guitarrada. De alguma maneira, lá o convencíamos a deixar, por momentos, a vida artística. O que, para nós, também era difícil, tal eram as gargalhadas, as palmas que batíamos. Ah, não haviam visitas, lá a casa, que ficassem sem um espectáculo a preceito. Engraçado, sempre que voltavam, perguntavam-lhe, primeiro, pela guitarra. Nós, aprendíamos. Quando ainda entravam pela porta, já sussurrávamos, “…não lhe peçam, já, as guitarradas”. Quando se descaíam, bom, nada a fazer. Depois, ou era o alti-falante, ou a guitarra, que começavam a ter alguns “problemas de pilhas”. Arranjos demorados. Como não há brinquedo que resista, a guitarra, um dia, avariou-se mesmo. Mas, os espectáculos, esses, continuaram. Fosse ao som de uma cassete, ou do “Top +”, na têvê. Lá estava o nosso rockeiro, no palco, para mais um espectáculo.

Quarta, 9 de Março de 2005