Naturezas
Começou por notar as diferenças para o irmão quando, de vez em quando, tomava banho com ela. E perguntava, perguntava, perguntava, tocava, mexia, perguntava. Já tinha reparado, também, que ele não se sentava para o chichizinho da praxe. Depois, começou a fazer questão de entrar na casa de banho, quando eu ou a Mãe íamos tomar o dito. E lá fazia as suas perguntinhas. E porque é que tens assim, e o mano não tem, e porquê, e porquê, e posso mexer?. “Agora não filha, está muito frio e o pai tem cócegas”. A mãe achou que, como ela o fez, lhe devia ter satisfeito a curiosidade. Eu não achei nem que sim, nem que não, apenas que iria ter cócegas. No resto, continuou a entrar sempre que lhe apeteceu. Eu, pouco àvontade, até já entrava no banho antes de a água ter aquecido. Ela observava. De vez em quando, espreitava por um buraquinho que espaçava na cortina da banheira. Não havia fuga possível. Depois, a curiosidade foi-se perdendo, e nunca houveram proibições. Também, no jardim infantil, quando iam à natação, tomavam banho juntos, eles e elas. Mais tarde, pôs-se a espreitar o irmão. Lembrei-me disso, pelo papel higiénico com que ele encheu a fechadura da porta da casa de banho. Qualquer dia, tal como aconteceu com a turma dele, lá serei chamado à escola, para uma reunião de pais, a propósito dos desenhos que vão circular pela sala de aula. Lembro-me de a directora da turma, de então, “informar” serem elas as instigadoras, as “piores”, no que respeita ao conteúdo dos bilhetinhos interceptados. “É com cada um …”, referia, baixando os olhos. Sinto calafrios, porque não me sinto preparado. Vejo-lhe uns peitinhos a crescer, muito acne na testa, e lá a vou avisando, “ÊêÊ … pois … assim … gostava … pois … muito … que me dissesses … assim … quando um dia tiveres … êÊê … o período …”. “Ó Pai, mas isso são coisas muito íntimas!”. “Ó Filha, eu sei, mas é importante que o Pai também saiba isso …”. E tenho mais calafrios. Nestas alturas, sinto-me desamparado, falta-me e invejo a omnipresença da Mãe, agora, a sua confidente inseparável.
Quarta, 9 de Março de 2005.
Quarta, 9 de Março de 2005.
18 Comments:
a verdade, é que essas coisas são do pior, ainda por cima para um pai...acho que temos muito mais dificuldade em explicar, digo eu em grego
Carlos, tens razão, mas terei que dar a volta ao assunto. Que raio, isto é mesmo delicado ...!
taosoumpai,Nós (pais e mães) é q temos tendência ás vezes para complicar...qto mais simples fôr a abordagem e a explicação...melhor eles percebem...naturalmente e sem tabus!
bjokas
Posso ser eu a usar os smileys coradinhos agora? Posso?
Mas pk Nuni????q asneira fizeste desta vez????
Pois, vocêzes, as mulheres, são sempre muito práticas. Esquecem-se que já andaram nuas com eles e com elas, mesmo antes deles nascerem. E, ainda por cima, está sempre tudo muito protegido. Eu, com o filhote, fico mais àvontade. Mas com ELA, fico ARRASCA!
Nuno, atão, foste dar uma voltinha ao MECO?
Bom... já estou a imaginar o meu marido em pânico quando chegar a altura de falar disso com as minhas filhas.
Mas é verdade, nestas coisas nós (mulheres) não só somos mais práticas como temos uma relação mais 'íntima' com as filhotas!...
Enfim, aprendizagens constantes!
Alda
http://historias-da-mama.blogspot.com/
Por acaso tive uma sorte bestial com os meus pais, com quem sempre falei à vontade de tudo... o "problema" é que foi tudo tão natural que não me lembro nunca de ter perguntado nada, tenho a sensação de sempre ter sabido tudo... mas claro que não foi assim. Bem gostava que eles me explicassem para eu poder fazer o mesmo :D
hehehe
que engraçado.
Quando chegar a essa fase acho que o meu marido não se vai sentir mesmo nada à vontade para falar com as meninas.
O mais certo é recambiá-las para a mãe e chamar o Lucas para uma "conversa de homens". :-)
Eu não fiz asneira nenhuma! JURO! São elas! ELAS!!!
... Elas podem ser o nosso céu e ... o nosso Inferno.
... desde o dia em que nascem ...
A minha está a entrar agora nessa fase... mas o pai tem lidado muito bem e naturalmente com a coisa! Vamos a ver... mas diverti-me bastante com este post!
Eu não sou pai (pois claro), mas sempre lidei com estas situações fícias e biológicas de forma muito natural. E acho que explicar o que é sem complicações ou muitas palavras, é a melhor solução. Eu já fui educador num Seminário e tentei sempre explicar, acompanhar, lidar saudavelmente com situações relacionadas...
Olá, "Pai Só".
Essas coisas serão mais ou menso difíceis quanto maior ou menor for a simplicidade com que se consiga abordar o assunto, por um lado, e, por outro, a abertura que os miudos queiram dar aos pais. É normal que certos assuntos, consoante digam respeito às meninas ou aos meninos, "requeiram" a intervenção mais estreita do pai ou da mãe. Num quadro de uma separação - e permita-me a observação, penso que se está aqui em sede de uma separação recente, doída, com muitas "fracturas expostas", verdade? - a coisa fica mais difícil de gerir. Não estranhe se a sua princesa se fechar em copas acerca deste assunto. Não sou psicóloga, não senhor, sou só mãe, mas tenho sensibilidade suficiente(agora pode achar que sou estupidamente arrogante, e por isso, peço-lhe já desculpas), para crer que se "levantar o pé", ela há-de vir pedir-lhe ajuda. Ela vai perceber que o pai não é um ente estranho, é alguém que a ama e, fundamentalmente, que está cá para lhe dar a mão, quando ela precisar. Nós mulheres, somos assim, esquisitas às vezes; gostamos de saber que temos quem nos ame e ajude, mas gostamos de "distância" (por acaso a sua menina não é Leão, não?). E não se esqueça que eles - os folhos - devem estar ainda a gerir esta realidade nova.
A minha experiência pessoal não foi lá muito agradável - no dia em que tive a 1ª menstruação, havia um almoço em casa de familiares e, qual não é o meu espanto, quando entrei, todos sabiam da "novidade". Não foi simpático, não senhor. Por isso, sensibilidade e bom senso precisam-se. Sem dramas. A fluir naturalmente.
Peço desculpas pelo "testamento abusivo".
Que tudo corra bem, para ver se muda o título ao seu blog e lhe tira o "só", ok?
Tudo de bom.
Obrigadão, Maria João.
Pois, levantar o pé. Estar presente, mesmo ausente. Ai ai, o problema é geri-lo sem estar com ela presente, na mesma casa. Nessa altura, sentia-lhe um problema, não lhe dizia nada, falava com a Mãe, alguma confidência?, e esperava que, nalguma palavra, se houvesse, lhe descobria o que a preocupava. E observava, a mudança de comportamentos, da idade, das brincadeiras, dos gostos, das côres preferidas, da amigas, festas de aniversário, das músicas, das leituras, nada de interferências. Mas, agora, com a distância física, este estar presente, vai-se perdendo. E ainda não encontrei esta forma de estar, não estando. E, muito mais do que em relação a ela, me preocupa em relação a Ele, com a idade que tem.
P.S.
Não foi testamento, nem abusivo. Obrigado pelas palavras.
Keep up the good work
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