Efeméride
23, de Março, contados. “Pai, não queres ir ao cinema? Mas tens de me vir buscar ao CNG”. Ouvi vozes, mulheres, pareceram-me familiares. “Oi, isso é na Parede? E ver o quê?”. “O ring dois”. Mais vozes. “Quem está aí?”, “Estou na casa da C”, “Quem está a falar?”, “É a outra C”. Chegado ao CNG, “Olha, já cheguei, estou aqui, do lado esquerdo”. “Agora, sobes a rampa do Plus e esperas por mim”. Ah, não era bem no CNG. Voltas e mais voltas, lá estava ele, com uma mocinha, no jardim. “Então, quem era?”. Pois, a C. “E quem mais lá estava?”. “As Cês, a P e eu”. Três para um, pensei. Arrisquei, “Isso não está um bocado … desigual?”, “Não, tá-se bem”. Hum, tenho de conversar com este bandido, três gajas e um gajo, pode dar para o torto. Há que ter calma, por elas e, por ele. Na ida, perguntou-me se EU queria, MESMO, ir ver o ring dois, ou se preferia outro filme. “EU? Eu vejo o que tu vires”. “Tenho medo”. “E então, isso é sim, ou não?”. “Sim, mas tenho medo”. "Também eu, mas vejo". Dia negro, filme negro, pensei. Vou acabá-lo com o Filhão. Ironias. Fui jantar, quis estar bem disposto e, ele, acompanhou-me, “Comi na casa da C, a mãe dela deixou-nos muitas tartes e bolos. Estou cheio”. E falámos. Falou muito, dele. Fiquei a saber dos amigos, das amigas, da reunião de pais havida, “Bolas, porque não me avisaste?”, “Pai, pus o papel no frigorífico para a Mãe ver e, esqueci-me”. Queixou-se da injustiça com que foi tratado. De facto, a média dos testes apontariam para notas muito mais altas do que as que teve. Mau, e o que te disse a Mãe, depois da reunião? “Que os professores se queixam, ainda, do comportamento”. “Bolas, Filho, passaste noites a estudar para te darem cabo das notas pelo comportamento?”. Pois, este meu Filhão sempre apresentou histórias cheias de omissões. Fomos dar uma volta, faltavam quase duas horas. “Viste pai, viste?”, “O quê?”, “Não olhes”. Disfarçadamente, tirou e pôs, de novo, a carteira no bolso, puxando as calças mais para baixo, boxers bem à vista, camisola levantada, está louco, pensei. De repente, gritinhos excitados, “está a mostrar, está a mostar”, diziam as duas, apontando-lhe o dedo. “Não te disse, Pai, não te disse?”. Agora percebo, porque é que queres boxers áquele preço. Filme negro, jantar desperdiçado no medo. Saltávamos os dois, a cada susto. A rapariga, ao meu lado, saltava para o colo do namorado. Achei a ideia interessante. Isto, de ver filmes de terror, com uma namorada. Esquece, deve ser das más influências, más influências. Vendo bem, tenho que rever a minha "política", no que respeita às boxers. No fim, ao deixá-lo em casa, avisou-me de que não se iria deitar cedo. Pelo medo. Eu, também não pus o carro na garagem. Já me bastava a difícil digestão. Deitado, preocupei-me com as companhias do meu Filho. Mais crescidos, filhos de pais divorciados, com carro e mesadas chorudas. Dá que pensar.
38 Comments:
Olá, Eu.
Obrigado pelo post. E pelas palavras.
Nunca desistirei de ser Pai. Bom, tem dias ... . Não sei se sou "estupendo" mas, lá isso, gostava, de ser, apenas, Pai. Todo o Pai que, por definição, o é, será bom Pai. Eu quero ser um bom Pai. Nisso, está-se sempre a aprender. Principalmente quando o filho mais velho trilha caminhos desconhecidos, também, para mim.
E tens razão, ele conta-me muitas coisas. Que, provávelmente, não contará á Mãe. Como peca, muitas vezes, por omissão, estimo que metade da "história" fica por "sair" cá para fora. Pelo menos, comigo.
Finalmente, aqui para nós, sinto a necessidade de confrontar algumas "notas" com ela, a Mãe. Troca de informação, estratégias comuns de educação. Infelizmente, isso não é possível. Um dia, veremos.
Apesar do "Dá q pensar",foi mais um daqueles momentos cúmplices que tão bem fazem :)
bjokas
Pois.. pois... pois... Essa de o teu puto andar com 3... eu sempre disse que se havia 7 mulheres para cada homem, devia haver por aí algum tipo com 14... Vejo agora que o teu filho está a fazer a parte dele!
:P
Li e gostei. Fiquei contente por ti, pela quase normalidade que exala da relação com o teu filho. Ainda para mais sabendo eu que o factor "quase"" se deve a causas alheias à tua vontade.
Olha, fica bem e vai curtindo os momentos que te são proporcionados. acho que o teu filho se deve orgulhar do pai que tem.
Apesar das muitas contrariedades, ainda bem que conseguem ter momentos assim.
Não desistas Pai!
Um beijinho
EP
Olá, "Pai", já estava a ficar preocupada com a falta de notícias, mas, depois do teu comentário a um post meu, percebi que foi pelas melhores razões!
Olha, de tudo aquilo que tenho aqui lido, e correndo o risco de ser repetitiva (ai, que lá vem mais um testamento...), mau pai é exactamente aquilo que me parece que não és.
"Ser um bom pai"- francamente, acho que não te devias torturar dessa maneira. Mas que diabo, acho que sozinho fazes mais que muitos "educadores de sofá" que eu conheço, e que vivem na mesma casa dos filhos!
Venho aqui ao teu sítio (e a mais uns, poucos) para aprender - sim, para aprender! Que era o que muita gente devia fazer.
É que, para além de tudo, de seres preocupado, de só não participares nas vidas mais porque não to permitem, tens a humildade de verter em palavras as tuas dúvidas e medos. Ó homem!? Os teus filhos podiam lá ter melhor Pai?
É pena é a mãe parecer ainda não ter crescido como tu. Sim, que eu, na minha pouca experiência de mãe, de pessoa, acho que as adversidades que se nos apresentam são sempre lições, ensinamentos e grandes oportunidade de crescimento, que não devemos ignorar!
(desculpa lá fui rude, mas é que hoje estou um bocadinho a largar enxofre, ok?)
Bjokas.
...vamos navegando nestas águas virtuais e vamos encontrando naúfragos; uns, em ilhas paradisiacas, outros em ilhas desertas... todos nós temos os nossos mundos... cada um num mundo diferente mas ao fim e ao cabo tão "sempre" iguais...
...pelo teu perfil verifico teres 45 anos e "convives" com os teus filhos... fui avô aos 48... e havida sido pai aos 24... aos 39 por divórcio "perdi-os"...
...foram 6 anos de angústia e não vivi com eles os melhores anos que seriam supostos terem sido vividos, pois tinham eles entre os 13, 14... aquele período, o mais importante, o da adolescência, eu não a partilhei com eles...
...fizeram-se num homem e numa mulher que hoje são o meu orgulho e os pais dos meus netos...
...não me considero tão somente um pai (que não fui na sua plenitude) mas um pai "incompleto"...
...faltar-me-á sempre até ao último dia da minha vida aqueles anos em que não os tive e nos quais não partilhei essas idas aos Centros, aos Cinemas, essas coisas que me teriam dado um enorme prazer
...resta-me a dor da falha
...no entanto, estamos aqui e o que quer que tenham sido as minhas escolhas do passado e venham a ser as minhas escolhas futuras, eu não posso nunca culpar-me delas...
...o que escolhi, escolhi e assumi
...o que vier a escolher vou ter de aceitar
...como dizes hoje num comentário do Machado Vaz, sobre o estares vivo apenas em consciência e não quereres que te desliguem, não sei se essa visão será a visão perfeita duma escolha que eu desejo sinceramente a todos que nunca a venhamos ter de a tomar...
...mas nessa visão, eu prefiro partir em paz e não ficar...
abraço
Olá
Eu caí aqui, depois de ler um comentário seu no blog do prof. JMV que me deixou petrificada. Por momentos achei que estava perante uma "nova metamorfose" de Franz Kafka tal a intensidade que emprestou às palavras, e embora eu não concorde consigo no conteúdo, tenho que admitir que foi dos comentários que mais me tocou. No entanto, lendo um ou dois posts seus, vejo que tem as emoções à flor da pele,e daí que o que escreve tenha alma e comova. Por mim acho que é um sedutor...
Maite
Anna, é verdade, foram momentos de cumplicidade ... de boa conversa, de lhe conhecer, não (ainda) as paixões, mas as amizadezinhas mais profundas, os amigos e a vida desbragada que levam, pelo qual ele alinha (quanto a isto, não me meto muito, faço umas perguntinhas, para me orientar, vou ouvindo, levantando uns "paraquê", e outros "porquê", "achando" isto e aquilo).
Agora, vê como sou cego, eu vi lá as mocitas a andar atrás de ... dele? Só agora percebo porque oiço muitos pais da escola a queixarem-se, de os miúdos quererem alargar as calças de ganga, ou a comprarem umas muito, mas muito mais largas, e porque que o outro puto gorducho, mas da minha altura, que avistei nas escadas rolantes, as trazia por baixo das nalgas, enquanto as segurava com uma mão. Achei ridículo, pensei que tivesse perdido o cinto, mas deverei concluir que haveria, nas proximidades, caça à vista.
O curioso é haver, aqui, uma inversão de papéis. Antes, elas andavam de mini saia e ... bom, bom, o que era bom, era para se ver. Agora, são eles que mostram as boxers e elas ... ficam à espera do espectáculo. Parece que andam atrás de pirilampos. Se a moda pega e refina, vamos ver muito bom Rembrant, Picasso, Monet e outros, estampados em muito rabiosque.
Nuno, hoje comem tartes, bebem sumo. Amanhã ...
Comem? Bebem? Pensas tu!
LOL
Eu,
Obrigado pela partilha. Afinal, não estou tão só, nesta espécie cruzada ao desconhecido, por vezes assustadora, a de ser Pai, ou Mãe, em vida cortadas ao meio. Mas é engraçado como estas situações, às vezes, até ajudam a transpôr algumas barreiras à nossa "osmose" com os filhos, porque nos aguça os sentidos, os sentimentos e, neles, passados os primeiros e frios momentos do reencontro, quebram-se algumas muralhas "tradicionais". Tudo depende de como o fazemos, como agarramos numa frasezita perdida e não deixamos a porta fechar-se, transformando-a em mais conversa, percebendo o resto no olhar, nos silêncios, falando-lhes, também, com os olhos. Vai muito da inspiração, no momento, que é sempre muito ... "intenso", porque envolve, também, situações de grande confrontação.
Ainda no Sábado lhe ouvi, em tom desafiador e trocista, " se és o meu Pai, porque não vives onde eu vivo?". Bandidinho. Percebi-te. Respondi, como pude, no momento. Mas ainda estou a digeri-la, calou-me fundo. Porque a quero pensar, quero descrevê-la, e preparar-me para outra igual. Ou pior.
Vizinho,
Obrigado pela visita e as palavras "curtidas". Abraço grande.
EP,
Obrigadinho.
Joãozinha, adoro o teu enxofre, e a tua perspectiva. Obrigado.
Lobices,
Agradecido, desde já, pela visita e trazeres, de presente, o teu relato de Pai. Do que perdeste. E eu querer perder o menos possível. Quanto ao outro comentário, vi, em muito novo, acontecer o que não queria. Primeiro, numa viagem do Vera Cruz, piscina dos adultos, com colete, 3 ou 4 anos, fui empurrado para baixo de água, sustive a respiração, começou-me a faltar o ar, percebi que era o fim, e, não sei porquê, não me conseguia mexer. Depois, puxaram-me para cima. Mais tarde, foram coisas em África, onde nasci e vivi, até aos 16. Percebi como é dilacerante e louco, o segundo que decorre antes do fim. Que não o foi. Fico por aqui, suam-me as mãos. Deve ser assim, no corredor da morte, que toma muitas formas.
Um abraço
Maite,
Obrigado pela visita. E ... Kafka? Será um cumprimento. Mas, eu não escrevo. Limito-me a desenhar o que sinto, de mim. Se não vivo, não morro, se não sinto, não escrevo. Catarse? Seja. Um pouco mais, aqui: http://deondeteescrevo.blogspot.com/2005/03/de-onde-te-escrevo.html
Pois, sedutor ... (não posso deixar de sorrir). Gostaria de ser seduzido. Mas, não se ama sempre. ... sedutor ... Obrigado e um abraço.
ahahahahahahahahahahaha
gostei da ideia dos grandes génios da pintura tatuados num rabiosque a fazer as delícias das meninas LOL
":o) bjokas
... (Anna, também estou a rir) ... é, no mínimo, uma visão aterradoramente hilariante.
É difícil ser mãe/pai de adolescentes mas, se bem me lembro, não é fácil sê-lo. Obrigado por me ajudar/partilhar esta fase que, em alguns indivíduos pode durar até aos trinta...NÃOOOOOOOO!
http://filhosecadilhos.blogspot.com/
Paizão,
Vim cá fazer um "mea culpa"... já vi, já vi!!
bêjos
Soubessem todos os pais acompanhar os filhos dessa maneira! Bonita cumplicidade, não me canso de te dizer
xi♥ aos dois
Não é justo... eu tinha comentado este post ontem e pelos vistos não ficou gravado...
Como já não me lembro do que escrevi deixa-me dizer apenas que já é bom ele gostar da tua presença ao pé das amigas!
É sinal que te tem também como um amigo.
Por isso e quanto ao resto... espero que lhe consigas incutir o sentido de responsabilidade e que ele o saiba aprender. Se assim for, não tens com que te preocupar.
Quantos filhos de pais juntos e sem grandes mesadas que também se perderam a meio de caminho?! Se houvesse alguma fórmula secreta para os manter no rumo...
Um beijinho
Sandra
Leio aqui...mas tambem gosto de ler o outro lado...O homem, não só o pai. Parabéns por tão bem expressares as tuas emoções!
(sorriso)... :)
li... e, bem, q dizer?
sorrir talvez :)
gostei do post, mas n o sei comentar, dscp...
se a idade do profile está certa tens a idade dos meus pais. o q n deixa d ser curioso, ler o outro lado... um lado certamente com pontos semelhantes aos deles...
qq dia serei eu (talx) e...
bem... é estrnho pensar, lol
Tão só, um pai....a minha vida vai mudar.... como tua mudou ha cerca de 1 ano. Tudo está desabar....
Pai,
Participa neste nosso desafio.
EP e M.João.
E se eles quiserem, traz os teus adolescentes!
Espreita!!!
Pai,
Participa neste nosso desafio.
EP e M.João.
E se eles quiserem, traz os teus adolescentes!
Espreita!!!
Deliciosa e verdadeira descrição de umas horas de paternidade. Cheio de humor k é a melhor arma p/ "levar" estes confusos dias.Bom resto de semana, sem maiores sustos. Bjs e ;)
Obrigado, TMara.
OH PAI!!!
Que se passa para tanto silêncio. gosto tanto de te visitar!
Como estão esses adolescentes? É que eu também sou adoloscente e quero aprender qualquer coisa com as aventuras desses filhotes.
:)
por onde anda o Pai???
Tenho-te lido em silêncio. Dizer-te os motivos porque nunca comentei, era capaz de levar horas e uma infinidade de palavras. Era ir às origens de mim. Como filha e como Mãe.
Como Mãe e como mulher.
Como mulher que sabe o que é criar 2 filhos, com um pai, que estando presente, está sempre ausente.
A minha primeira gravidez aconteceu, ao fim de três meses de casada. Aliás, nem dei conta que estava casada e ele, já tinha ido atrás de outra.
A minha filha nasceu, cresceu e fez-se mulher, omissa de pai, que só apareceu, para a primeira comunhão da filha e, voltou a desaparecer logo a seguir.
Anos passaram e a solidão levou-me a um novo casamento. Como adoro crianças, desejámos ter um filho. Ele nasceu. Um Pai presente até que, a doença abalou toda a nossa estrutura. Agora é um Pai presente, mas ausente. Ausente nesses pequenos pormenores que contas e, que ele nunca irá apreciar. Ausente de ver crescer o filho, como ser humano, maravilhoso que é. Ausente, de apreciar a beleza que é, ver a transformação do filho, que pouco a pouco, se está a verificar.
Só te posso dizer: aproveita bem esses momentos. Não voltam a repetir-se.
Um abraço :-)
Olá, impressão.
O Pai está aqui, sempre. E, também, por ali:
"http://deondeteescrevo.blogspot.com"
menina marota,
Primeiro, obrigado pela partilha e, não só agora, mas sempre, um abraço, assim, de gente. Como tens razão, de serem estes os momentos, que temos para aproveitar. E é isso que remói, percebes, dói, porque, apesar de intenso, são tão poucos, e tão pequenos.
Olá Pai...
Adorei o teu blog e estou com as lágrimas nos olhos... talvez coisas de grávida!!!
Fico muito feliz por saber que ainda há pais assim, que se preocupam e que gostam mesmo dos filhos!!!
Continua assim!!!
Estou ansiosa por ser mãe, e ver a reacção do pai ao novo rebento, tenho a certeza que vai ser um bom pai... mas, quem sabe!!! ;)
Isa e Pedrocas (21semaninhas)
Olá, Isabel.
Olha, não estejas tão ansiosa. A ansiedade é para o Pai que, mesmo aparentando muita calma, se alguma coisa mexe um pouco mais, desfaz-se todo num instante.
Beijo grande. Tudo correrá bem e, podes ter a certeza, quase ninguém está preparado para ser Pai. Quanto mais um "bom" Pai. É o tal livro de instruções ... e uma coisa é certa, não há nenhum Pai que não ganhe em ler um pouco sobre a criança. Claro, se não fôr médico.
Beijinho grande!
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