Sunday, May 20, 2007

Amôr sobre um B.I.

Nunca me senti, o quis sentir, nem ser "Paidrasto" de coisa alguma. Estes filhinhos a chamarem-me de "tio", era e ainda hoje o é, como ser socado no estômago, é um punhal que se crava, à frente e atrás, dum lado e do outro, onde nos fica a alma, ou se sente, às vezes, o pulsar dum punho cerrado onde temos o coração. Ouvi-la, a Eles, essa palavra era, pela lógica possível e associativa, irmanar-me ao verme mais asqueroso que se esconde no esgoto do que mais nojento o pior inferno tem. Mais grave, ainda, era a partilha, com esses verme, do meu primeiro nome. Porque mais não se pode amar, neste mais do que amor, de Pai, este sorriso, eterno, de eternamente embevecido, abracinhos e abracinhos, aconchegadados, aconchegadinhos, tão suavemente apertadinhos, de coração e coraçõeszinhos, festinhas, mais festinhas, tudo cheio de muitos, e tantos, mas tantos carinhos. E, no fim, de cada abracinho, esta angústia aflita até ao próximo olhar, até ao próximo abraçar de carinho. Como é doce a vida, quando estes queridinhos se lançam loucos, abrindo os abraçinhos, rasgando os olhos num sorriso, nos saltam gritando, loucos e entoando esse hino de alegria, essa palavra que nos derruba, por ser tão linda e, tão só, se resuminso às letrinhas "Pai!". Como queria que me chamassem "Pai!", sem recearem o roubo ou afastamento, nem as represálias e repreensões, os ciúmes ou mesquinhas invejas, sem os verbais maus-tratos de que seria alvo a Mãe, e sentissem, nestes afectos, o afecto de, apenas terem mais outro, por ser outro, que muito os ama, ardoroso Pai.

Naquele dia, sorri. queimei o BI no cinzeiro da minha repulsa, multou-me a polícia por morada incorrecta, mais essa grande falta, a de identidade incerta. Ainda e nessa tarde, deram-me mais um mês de vida, desejaram-me felicidades e disseram-me como se fazia, para trocar anos de vida por uma indemnização, por Judas recomendada. Sorri, ao ver a vida envolta num furacão. Depois, disse à Mãe, que chatice, vê lá que perdi o BI. Mais tardem fui ao registo, informei, roguei, extraviaram-me o BI e, porque me perdi, já agora, como posso mudar o nome deste vosso cidadão? Tudo escrevi no que me apontaram, de dificuldades, burocracias malditas, requerimentos repletos de palavras intransponíveis. Retorqui, expliquei tudo, de como me doía o "ti-ti", que me queria casar, casar todos os dias e se, em casando, o apelido se pode alterar, porque não, agora, também mudar o resto do meu nome, à medida da minha vida? Indagou-me, trocista. "Se vai mudar de nome, por curiosidade, como o queria?". Expliquei-lhe que, primeiro, acrescentaria o que sou e, se possível, conforme o requeria, retirar do topo o mais antigo para, agora, o reduzir ao que como o gostaria, que os mais novinhos, com toda a convicção e sem qualquer restrição, o chamassem em gritaria. "Como?", um pouco confusa, a senhora tentou entender-me no que lhe dizia, "Deixe-me ver se o percebo. Então, você, quer mudar o nome para Pai M(...)l ". Anuí com a cabeça e encolhi os ombros. Vi-lhe um sorriso lindo, tão bondoso, naquele rosto, outrora, tão fechado. "Fazemos assim. Para já, por causa da apreensão e pelo divórcio, renova o seu BI, ficando como está. Quando reunir a família, venha falar comigo, para vermos o que se pode fazer e como ficará". Agradeci, com um sorriso e um, muito esperançoso, obrigado. Há dias na vida em que tudo se Dá, tudo se derruba porque quem ama, se Dá, se Dá sempre, sem outro fim ou retribuição.

Hoje, na pedra do meu Pai, chorei pela minha perda, pedindo perdão por ter sucumbido ao desespero da vida e não ter cuidado de quem tanto amo, a quem confiei a minha vida, a essa luz e dádiva divina que me prometeu amôr, protecção para avida, disposta a esperar o tempo necessário para sermos uma família e a estar, sempre, ao meu lado, nos momentos mais difíceis. Perdoa-me por ter esquecido a tua sabedoria, corrido atrás dum vazio de medos e expectativas. Hoje, abracei o meu Pai, agradecendo por, na vida, me terem ficado e eu as amar, outras duas e maravilhosas criancinhas. E continuar a amar a Mãe, mesmo que me magoe e me diga Não. Obrigado, meu Pai, pelo teu perdão e o teu abraço, a este teu filho, tão precisado.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

People should read this.

11:33 PM  

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