Sunday, July 23, 2006

21 de Julho de 2006

Perdoa-me. Perdoa-me por não ter acudido à súplica do teu olhar. Perdoa-me, porque eu não me perdoarei, nunca. Perdoa-me por julgar que ainda tinha tempo para estar contigo, quando me rogavas para te levar aonde sabias que querias ir, e não acudi à tua súplica. Perdoa-me, por não ter estado contigo hoje de manhã, por não ter estado contigo ontem à noite. Perdoa-me, porque eu, sabes, não me perdoarei, nunca. Como nunca esquecerei o teu olhar de ontem, quando me suplicaste para te levar, como o condenado à morte, que suplica pela vida, pelo último desejo irrecusável da vida. Meu Deus, os teus olhos diziam-me tudo, e eu não quis ver nada. Lutaste tanto, aguentaste mais um dia e, depois, ainda outro. Deste-me todo o tempo de que precisava, para arrumar a minha vida e dedicar-me, com todo o meu amor de filho, que te tenho e que sempre te quis dar, neste derradeiro momento da despedida. Perdoa-me, quando os teus olhos suplicantes me rogavam "fica comigo mais este bocado, porque pode ser o último", e abandonei-te, na derradeira fase da tua luta. Perdoa-me, porque sem me perdoares, eu não posso perdoar-me, nunca. Havia coisas que te queria dizer, daquelas que só se dizem na despedida, daquelas coisas que valem o amor pela vida. Pedir-te perdão, por todas as tristezas que te causei, por não ter sido um bom filho, porque não acho que o fui e nem mo sinto, por não ter te dado uma melhor velhice, a que merecias. E não estive e nem tive contigo, esse momento, esse derradeiro momento, o de te pedir perdão pela minha vida. Agora, não sei como to dizer, Pai. Os teus olhinhos, de terror, de súplica, Pai, os teus olhinhos, o último momento que guardo de ti, meu amor, Pai da minha vida, não sei como vou viver com eles, até ao fim dos meus dias. Nesse altura, quando nos encontrarmos, aí, onde estiveres, pedir-te-ei perdão, sempre, todos os dias, se aí houverem dias.
E perdoa-me, Pai, perdoa-me pelo que podia ter sido e não fui, por tudo o que devia ter-te dado, e não dei, pelo que podia ter-te dado, mas descuidei, ou recusei. Quero abraçar-te, beijar-te, meu Pai, meu amor, mas, agora, apenas me sobra o teu cadáver.
Perdoa-me, para sempre, a mim, o teu filho, por te ter falhado num derradeiro momento, sem despedida. Perdoa-me, meu Pai.

13 Comments:

Blogger LP said...

Tu és pai. Achas mesmo que ele precisava de te perdoar? Foste o melhor filho de todos, não sabes?

Beijo grande grande

12:17 PM  
Blogger Alda Benamor said...

Nem sei o que hei-de dizer... porque nestas alturas nenhuma palavra faz sentido. Mas, se há algo a perdoar, acredita que o teu pai já perdooou. O amor não tem barreiras e do lado de lá - aquele lado de que ele te falou há uns tempos e que tu relataste no último post - concerteza que ele se recorda orgulhoso de ti!

(os meus pêsames)

12:25 AM  
Blogger Diana Bento said...

Beijos de força, porque as palavras não chegam...

11:57 AM  
Anonymous Anonymous said...

Passei hoje aqui por acaso e li o seu post que me tocou bastante. Só queria dizer-lhe que não se sinta assim porque os pais perdoam ou acabam por perdoar tudo e de certeza que o seu Pai não quereria que se sentisse dessa maneira.

7:57 PM  
Anonymous Anonymous said...

Há palavras que me custa muito dizer. Os pêsames são algumas delas. Porque sei que tudo o que possa dizer não fará sentido nenhum para quem as ouve. Foi essa a razão de não te ter dito tais palavras quando te vi.

Mas acho que se te disser que pura e simplesmente não acredito que tenhas sido mau filho, isso faz sentido. Pelo menos, para mim, faz.

Que se te disser que não tens que te sentir culpado, porque as coisas acontecem como têm de acontecer, mesmo que nos escape o sentido.

Porque nada acontece por acaso. Nada. Acredita no que te digo. Foi uma outra lição que aprendi.

E tenho a certeza de que, seja lá onde for que o teu Pai esteja, já te perdoou - se é que há verdadeiramente algo a perdoar...

E porque o amor não tem limites nem barreiras físicas ou temporais, hás-de encontrá-lo e dizer-lhe aquilo que tens a dizer.

Um beijo muito grande.
De alento. De amor. De um amor muito grande que te tenho.

"Joquita"

10:55 AM  
Anonymous Anonymous said...

"Migo",

Digo-te o mesmo que te disse, naquele dia em que te abracei, com força... Tens a tua Mãe. Tens os teus dois filhos...

A culpa, que tu sentes, só pode diluída neles...

Naqueles a quem tu tens para dar... o que percebes que tensa para dar.

Um beijo! Aquele Abraço

Susana

1:05 PM  
Blogger Mikas said...

força.. imagino o que estas a passar. beijinhos.

4:43 PM  
Blogger CGM said...

Fica sempre alguma coisa por dizer. Mas por perdoar a um filho?! Acho que não!

Beijinho

6:44 PM  
Blogger um irmão. said...

Oro por ti.. as palavras estão a mais nestes momentos..podes aceitar o meu silêncio como o maior abraço que já dei..?

4:46 PM  
Blogger Eva Lima said...

Deixo-te um ombro.

Beijos

11:11 PM  
Blogger Histórias Soltas said...

Não existem palavras que descrevam o momento pelo qual está a passar. Seria bom agora que os seus filhotes se aproximassem de si talvez reencontrasse a paz q precisa junto deles.
Não precisa pedir perdão pois ja esta perdoado a muito.
Beijo e agora so precisa e mt coragem para enfrentar o momento

11:45 PM  
Blogger Unknown said...

ola ja ha algum tempo mesmo que nao passava por aqui,tocou me muito o post, pois perdi a minha vida(mae) vaifazer 4 anos emabril, e sei o quanto me sinto assim como tu, por nao ter tido mais tempo para estar com ela, de lhe dizer que a amava, de lhe dar mais atençao... mas eu sei que ela me perdoou, e se despediu de mim pelo telefone que fosse mas despediu se a sua maneira... pediu me para lhe cuidar bem do bem mais precioso que deixava ca na terra e disse que gostava muito de mim e desligou a chorar, tambem andava a morfina havia mais de um ano, a luta deles e sempre terrivel, demasiado terrivel, e ela tambem nao tinha medo de se deixar ir, so nao queria que fosse com sofrimento, o que acabou por nao acontecer..
Acredita que onde quer que ele esteja perdou te e esta a velar por ti e pelos teus filhos.. como a minha vela todas as noites o sono dos adorados netos...

Beijinhos da algarvia sandy

3:00 AM  
Blogger Nuno said...

Meu Deus.. Meu Deus....
L. são 4h20 da manhã... vim dar aqui numa esquina do pensamento. L.... Meu Deus... O que te dizer homem?
Que me sinto pequeno? Que me sinto insignificante? Que posso apenas imaginar o que sentes, o que sentiste neste dia? L... não penses assim! Os pais - e eu não sou pai! - perdoam tudo. Sabem ver. Não julgues que não foste o filho que deverias ter sido. Foste o que foste. Foste homem, criado. Meu Deus L.... Eu não sei o que te dizer. Acho que me imagino na tua situação. Infelizmente, acho que me imagino a dizer as tuas palavras. Desculpa.

4:27 AM  

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