Sunday, June 03, 2007

... era escusado, Pá!

A malta até gosta de ser visitada, mas o que é demais chateia, pá. Aquela de dizeres Olha Só Pra Mim enquanto os gajos decidiam não percebia. Nunca ouvi um gajo a gritar assim, pá. Um gajo não quer ouvir, um gajo não quer ver, mas tu gritavas e gritavas Olha Práqui Olha Práqui até que percebi que era só para olhar nos olhos e não ver mais nada, pá. Mas um gajo não consegue, um gajo também grita, um gajo já tá todo mijado e borrado como tu. Um gajo grita um gajo grita para te segurar um gajo grita para agarrar o gajo que te vai dar mais uma antes de tu o saberes se é que ainda sentias alguma coisa um gajo grita para que não te tirarem mais nada mas os gajos não ouvem, pá, os gajos não querem ouvir e tu gritas Olha Práqui e um gajo olha-te nos olhos e grita mais ainda um gajo não aguenta um gajo grita para não ouvir um gajo já grita antes de ti um gajo quer apagar a luz e ir embora mas a luz não se apaga um gajo grita e os gajos não param pá! Um gajo grita e já não sai mais nada um gajo só tem ar pra gritar e não pára de gritar ar, pá! Um gajo já percebe que não querias que um gajo sentisse o que vai acontecer a seguir. Mas as coisas não são assim e um gajo grita para te segurar a ti e não sabe se ainda estás mas como ainda gritas mesmo com o sangue a sair-te da boca um gajo grita mais ainda porque vê que os gajos não param pá. Um gajo julgava que só iam dar umas chicotadas até ver os gajos a afiarem o material com material e a rirem-se pá. Um gajo vê, pá, um gajo tem perspectiva e tu já não consegues só olhar pra mim, pá. É lixado. Tás todo separado, pá. Os gajos estão lixados, atiram um pé pró pé mim. Os gajos brincam, andam à porrada com umas coisas que até parecem braços. Não dá pra perceber porque aquilo não tem mãos. E tu já pouco gritas. Só eu é que grito ar e dão-me com uma daquelas coisas na cara, pá, não se faz. Um gajo até percebe que nem tenham material de jeito práviar mas assim custa mais porque precisam de malhar mais para desfazer e separar. Já não vejo nada nos teus olhos, pá, e os gajos jogam à bola com a tua cabeça. É um desporto do caraças. E eu não quero acreditar, pá, não quero. Depois param e pôem-se no bula bula com as catanitas a apontar pra mim, mufana práqui, mufana práli, pá. Um gajo quer ir embora e apaga a luz. Já não precisa de estar neste filme, pá. Depois um gajo arde em febre de paludismo porque outro não soube fazer o trabalho bem feito, pá, ficou tudo por acabar, pá, esta malta é preguiçosa, pá. Não sabe trabalhar, não sabe acabar o trabalho que começa, pá. Agora, não tens que andar sempre a olhar e a gritar-me Olha Práqui. Pôrra, pá, passas a vida a olhar-me, pá. Não tens respeito, pá! Até me olhaste com o meu Pai um dia antes de ele morrer, pá! É que não tens respeito. És tu e o gajo do trabalho mal feito que se riu no fim, pá. É que não foi fim, pá. Esta malta não sabe trabalhar. E um gajo não quer tanta visita, pá. Não há respeito. Um gajo não precisa de andar com as mãos molhadas, pá, um gajo também sabe lavar as manatas, pá. Um gajo farta-se, com tanta visita, pá! Um gajo precisa de privacidade, pá! Isto é só um filme, pá, não pode ser mais nada,pá, não pode ser mais nada. Vai dormir, pá! A malta já percebeu que tem de fazer a vida a correr. A malta já percebeu que, agora, nunca mais o terá, muito mais tempo de vida! A malta sabe que vai ser amanhã ou depois. A malta sabe que vai ter uma vida muito mais curta, muito mais curta que a do dos outros. A malta tem de correr. Já não tem muito tempo. Nunca mais o terá. Mas a malta não tem que estar, sempre, a ser lembrada. Deixa-me em paz, pá! A malta, às vezes, também precisa de acordar, pá! Pôrra pra Ti!

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