Thursday, September 20, 2007

Efémero

Naquela manhã, voltei ao mesmo sitio, o do encontro, sem outros olhares, que não os nossos. Fui, sentindo-te, sussurrando, doçuras, "... porque não nos sentamos?". Olhei para a mesa, ainda por limpar, sorri, comecei a sorrir. Sentei-me. Num café, nesta mesa, onde já não estou, porque olhei para a outra cadeira, não há lá ninguém, mas está mais alguém. Às vezes, a solidão prega-nos destas partidas. Algo que nos envolve, nos trás o peito apertado em ternuras, nos acompanha em doçuras, nunca estamos sós. Sorri. Percebi. Vi, em delicada ondulação, ténue, suave, transparências de vapôres aromáticos, suavemente erguendo-se, na chávena, da chávena, que respiro, aspiro, semicerrando os olhos, o teu rosto, definindo-se em contornos, formando-se com um sorriso, meio triste, mas meigo. Sorri. Olhei-te como o gosto de te olhar, por dentro, na alma, ou seja, nos teus olhos, sempre tristes, sempre meigos. Por vezes, tão aflitos. Outras, um nadinha cansados. Ah, mas sempre tão lindos. Suspirei. Arfei, de ternura. Que podia eu fazer, senão sorrir. Nos lábios, desenhaste um coração, igual ao gesto dum beijo, sereno e doce. Sonhei, desejei, beijei, também, muitas vezese, de olhos postos no que os outros viam, apenas, como um vazio, ou pouco mais, ou seja, do que ar e ...um ar de nadas. De forma estranha, delicadamente, tão delicadamente, gotinha a gotinha, bebi, com doçura, o meu café, saboroso, sem açúcar.
Decorrido algum tempo, voltei ao mesmo sítio, pedi ao balcão, já não esperei por alguém, fiquei com a vida, a minha, a fugir-me, sussurrando-me, " não tenhas medo, não da solidão, essa tua forma estranha de estares, quando pensam não estares, e sorris, ou te te ris, no meio de gente que não te sente, em nada, e em nada ficas, sempre, tão só ". Quando saí, pensei, estou comigo, já não te atendi, não te precisava, nessa voz das 9 às 5, com descanso aos dias santos. Lá está, sorri. Estava mesmo só. Estabeleci um plano, e sorri, outra vez, por cada omissão, fingimento, incumprimento ou a já indiferente desilusão, em cada inconsequente desconfirmação. Ah, estas amizades ... de despedidas ...ou bem que o são, ou não passam de outras e fingidas mentiras. Para ambos.

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