Tuesday, January 08, 2008

"Porquê? Ainda não tinham reparado?"

Não sei como foi, ou o que foi. E o que é e como o é. Mas é.

Há muito que te conhecia, áspera, como ásperas são as mulheres que que se fazem à vida sózinhas e tomam nas suas mãos enormes responsabilidades. Eu sei que têm um lado implacável, sim, ele está lá. Nunca gostei de ser encostado à parede por uma mulher que, no espaço do relacionamento, se ache empoderada ou com o direito a dizer-me como quer a minha vida e o que devo ou não fazer, na maioria das vezes sem qualquer empatia pela delicadeza das situações. Suspeitei que fosses assim. Depois, comecei a ouvir-te, "O que achas?". E eu, não fazia ideia porque mo perguntavas. É que não achava nada de especial, ou ter algo a dizer, sobre o que conhecia ou desconhecia, sobre o que, para ti, seria a diferença e, para mim, não passavam de diferenças, assaz normais, de vida. Achei-te intrusiva, na tua forma de quereres o que de mim pretendias, sabendo que tinha mais alguém. Depois? O tempo passou, nem tudo na vida te correu de feição. Aliá, a mim, também não. Fomo-nos vendo, percebi que me respeitavas, no cuidado que punhas, na ternura das palavras. Percebi, ainda, que me observavas, me estudavas, e lá me ias perguntando, "o que achas?". Eu? Eu acho que o importante é Tu achares que as tuas Convicções são o importante e, mesmo que não concore com elas, aceito-as. E percebi que não concordavas com todas as minhas, com algumas, mas que as aceitavas. Ou melhor, que reservas para outro momento uma nova abordagem sobre o assunto. Foi nesta troca que, assim, subitamente, apercebi-me dum brilho diferente nos teus olhos. Não, não eram já aqueles olhos de aço, ordenando, por ser essa a tua vontade ou, quiçá, estares habituada a que a vida tivesse uma ordem, a que tu lhe punhas. Desta vez, olhei-te melhor, sim, eu olho as almas nos olhos. E vi na tua alma aquele brilho cintilante, a centelha da ternura. No dia de Natal, prendeste-me a atenção, foi a minha vez, observei-te, na pessoa diferente em que te tornaste, imaginativa, solitária exploradora, dos espaços e do tempo mas, simultâneamente, não querendo fazer sozinha a viagem da vida. Descobriste tanto e pergunto-me o que achaste de fazê-lo sem a partilha. Percebo-te. Desde miúdo que guardo comigo imagens que, de mim, fizeram o que sou, alguém cheio de coisas que não se partilham. Puseste-me a falar de coisas até esquecidas, daquelas que eu não queria. Ou julgava não o querer. Entraste de mansinho nesta vida. Sabendo, apenas, do passado que me conheces, ignorando todos os outros terramotos que me abalaram a vida, todos os dissabores e amarguras dos últimos, quase, 4 anos. Hum.. ou então, conhece-los, enquanto, pacientemente, aguardavas o meu regresso à "quase vida". Com os olhos postos no futuro. Como o dizes querer, para o futuro. No dia do Ano Novo, soube-me bem, o teu gesto terno, tão discreto, de despedida.
Ah, mas há que contar com a "criação". Três mulherzinhas que, de tolas, nada têm. Não demorou muito até nos surpreenderam numa beijoca escondida, perceberam que estavas diferente, e nós sabíamos, ia haver interrogatório. Comigo ausente, não se rogaram, "ó mãe, porque não nos disseste que gostavas dele? ". Na tua voz calma, na paz que hoje te conheço, limitaste-te a responder "Ah.... Porquê? Ainda não tinham reparado?"
Fim de interrogatório.

1 Comments:

Blogger LP said...

Ena, de volta à escrita! E não podia haver melhor razão.

3:51 PM  

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