Tuesday, July 19, 2005

Janelas

Sexta à noite, apanha-me em casa de amigos, bem longe da minha. Vai sair e estar com os dele, mas proibido de dormir sózinho na casa da Mãe. Os dois zangaram-se e, de certeza, que a razão está com ela.
Não a quer acompanhar nem à irmã, na habitual deslocação do fim-de-semana. Pretende dormir no meu sítio. “Já disseste à mãe?”, “Já”. Fico intrigado. E se ele está a querer castigar a mãe, por causa da repreensão, a fugir a alguma imposição ou regra, quiçá se a algum castigo, aproveitando a separação e a existência de duas casas?

Se é verdade que cada um colhe o que semeia, é o nosso filho que está em causa, e não quero nem desautorizar a mãe, nem ser cúmplice das fugas dele às suas responsabilidades e actos inconsequentes. “Não estás sempre a querer que eu esteja mais tempo contigo, na tua casa?”. Pois queria, mas não em fugas. Seja, vou-te buscar quando me telefonares, e levo-te a minha casa. Depois, regresso para onde estou e ... não, hoje não podemos fazer um programa nosso, porque já assumi outros compromissos. Ademais, eu e os meus amigos não te podemos levar para onde planeamos ir. Já agora, não te preocupes se eu voltar muito tarde, também é o meu dia de saída. Sabes, o Pai está a reconstruir a vida.

À meia noite telefona-me, saio de onde estou, faço muitos quilómetros, apanho-o onde se reunira com o grupo, passamos por onde mora, de onde traz um saco de viagem e roupa para uma semana. “Vens só para o fim-de-semana, ou por mais tempo?”. Não sabe, logo se vê. Pois, mas eu estou a ver. Fica a dormir e regresso, desconfortável.

No dia seguinte, ajustamos vidas. Ao princípio da tarde, levo-o à praia, onde se encontra com os amigalhaços, eu visito os padrinhos dele, convidam-nos para jantar por lá, aceito, e assim fizémos. Mais à noite, lá vai o filhão para a reunião habitual do grupo.

Aproveito a sua ausência para confidenciar aos meus amigos presentes as preocupações que me assolam. A sua primeira reacção foi a de me julgarem e condenarem. Já o esperava, não era a primeria vez. Retorno ao meu passado recente e discuto todo o percurso acesamente. À paulada verbal, vamos abrindo caminho, trocamos razões e emoções. Finalmente, entendem-me e entendo-os. Custou mas, agora sim, ouço e sinto que sou ouvido. E gosto do que ouço, gosto dos apoios e das críticas constructivas.

Claro, tenho que encontrar uma forma de abordar a Mãe. E outras coisas, que ponho em prática. Dado o já tardio da hora, telefono, “Filho, vou-te buscar”. Ainda não se quer vir embora, pede mais meia hora. Tem paciência, não vais a pé até onde moro. Zanga-se, explode verbalmente e eu, também, zango-me. O padrinho oferece-se para o levar a casa, e aceito. Entretanto, devem ter tido uma conversa muito emotiva. Chegam-me a casa com os olhos lacrimejados, o filho abraça-me e pede desculpas. Abraço-o com muita força e, depois, faço o mesmo ao padrinho. Obrigado, “irmão”.

Domingo, ele dorme, eu vou à praia com amigos e, de lá, envio um SMS à mãe, dando conta da minha apreensão. Nesse dia, não tenho resposta.

À tarde, é avez dele, dou-lhe boleia até ao seu pessoal de praia. Para meu espanto, arruma o saco da roupa, e pede-me para passarmos, antes, pela casa da mãe, onde deixa as suas coisas. Converso com ele, clarificando que todo o castigo ou restrição estabelecidos na casa da mãe serão, também, cumpridos na minha. Lá me disse que não estava de castigo, mas não lhe perguntei porque tinha trazido tanta roupa.

Na segunda-feira, qual não foi o meu espanto quando recebo um e-mail da mãe, desculpando-se por não me ter respondido ao SMS enviado, solicitando, pela primeira vez desde a separação, ou seja, há mais de um ano, que lhe telefonasse.

Algo apreensivo, ligo, sinto-lhe um tom quase amistoso que, momentâneamente, me desarma. Confirma-me a proibição de o filho dormir sózinho na sua casa, e de ter sido sua a sugestão de ele ficar comigo. E percebo-lhe razões. Se acontecesse alguma coisa ao filho, ninguém estaria em casa para lhe dar pela falta e procurá-lo.

Estabelecemos linhas de actuação para “desmandos” e “fugas” que, potencialmente, venham a ocorrer, prontifica-se para que sejam retomadas as visitas, com base nas novas regras. Falamos da saúde deles e estabelecemos um plano para a marcação de consultas médicas. Agora, abrimos uma janela para educarmos os filhos. Que cada vez utilizamos mais, para trocarmos impressões e eles sentirem que estamos juntos nisto. Que não há segredos, mas sintonia.

35 Comments:

Blogger Mae-babada-cosmetica.blogs.sapo.pt said...

fiquei contente por se abrir uma janela ao diálogo, no fim de contas é o que todos nós ansiávamos à muito. A educação dos filhos pertence aos pais, mesmo que separados, Eles não têm culpa e há que ultrapassar as barreiras, mas falar é tão fácil!!!

3:01 PM  
Blogger Tão só, um Pai said...

Obrigado, Mãe_Babada.

De repente, e independentemente da separação, senti que voltámos a actuar como pais, conjuntamente empenhados no que é e será sempre nosso, o futuro dos filhos. Que as regras são as mesmas em ambos os lados, de forma clara, e que é importante eles sentirem isso.

3:41 PM  
Blogger Nuno said...

Eis algo que eu nunca tive.
Um abraço, amigão. Força nisso, pareces estar a ir no bom caminho.
;)

3:51 PM  
Blogger Tão só, um Pai said...

Olá, Nuno.

Faço com ele o que, no tempo dos nossos pais, se achava menos correcto, ou seja, manifestações de afectividade. Abraço-o sempre que nos reencontramos e dou-lhe um beijo à pai, que ele me retribui.

4:08 PM  
Blogger Tão só, um Pai said...

"Eu",

Este pode ser o caminho certo, desde que mãe se aperceba e reconheça que, de facto, a sua conduta no sentido de prejudicar e desautorizar a figura do pai, foi, também, lesiva para todos, inclusivé para o seu papel de mãe e educadora.
E que a protecção desses papéis e responsabilidades deveriam e dverão estar sempre, acima dos desacordos pessoais e conflictos jurídicos.

5:40 PM  
Blogger Eva Lima said...

Decididamente o tempo ajuda nestas coisas.
Fico contente por ti, pelos filhos, pela mãe. A dois é sempre mais fácil educar e, eles estão-te a chegar áquela idade mais trabalhosa.
Beijinhos

6:11 PM  
Blogger PARTILHAS said...

Olá,
Tu tens uma capacidade inata de comover. Pelo menos quem te lê.
Bom, ler, que te zangaste... Por vezes, parece que nunca o fazes.
Bom, os abraços, as lágrimas, as acusações, as trocas, as partilhas verbalizadas.
Bom, esse identificar de familia, diferente... Mas, sempre familia.

Positivo e carregadinho de energia, este Post. Amei, mas comoveu-me também.

:-)

10:12 AM  
Blogger Márcia Carvalho said...

Fantástico!

12:13 PM  
Blogger AnaBond said...

É cliché dizer que o tempo ajuda, mas acaba mesmo por ajudar. Demorou, mas finalmente a janela foi aberta.
Pode ser que a partir de agora as coisas sejam menos dificeis e consigas ter um papel activo na educação dos teus filhos.

Gostei imenso de saber que conseguiram ultrapassar uma etapa que não se avistava fácil.
Gostei mesmo.

12:33 PM  
Blogger Jolie said...

Fiquei contente pelo que li.

Espero que tenha sido um primeiro passo na direcção daquilo que realmente interessa! A educação dos vossos filhos.

Só posso desejar muita sorte para esta nova etapa, e que esta janela que se abriu te encha de luz!

Um beijinho
Sandra

12:36 PM  
Blogger Ana Luísa said...

Escreves realmente muito bem. Quase que consigo 'visualizar' tudo o que se passou e consigo 'sentir' as siuações por que passaram no fim-de-semana.
Às vezes tb me pergunto se o L., qdo crescer, e caso se "chateie" com a mãe, se virá ter connosco. Tal como tu, o R. diz que a porta estará sempre aberta para o filho mas que nunca o irá 'apaparicar' caso se trate de alguma "telha" com a mãe.
Creio que é o melhor caminho...
E fico feliz por ti, por, como sempre, saberes resolver tudo de uma forma tão assertiva. E por se ter aberto uma janela tão importante para a felicidade dos teus filhotes...
:)
Bjs

1:49 PM  
Blogger sandra said...

Olá TsuP,
Visito o blog regularmente, mas raramente comento.
De facto fiquei comovida e contente por saber que as coisas estão finalmente a levar o rumo tão necessário, que é a educação dos filhos. O diálogo entre os pais é muito importante, especialmente quando tem como finalidade tornar a comunicação entre todos mais fácil.
Nada de discussões, tudo com calma e serenidade.
Afinal os vosso filhos t~em que perceber que o pai e mãe não são inimigos..

cumprimentos
Sandra

3:34 PM  
Blogger LP said...

Ena! Grandes reviravoltas! E positivas! Aproveitem e vejam se conseguem unir esforços novamente mesmo separados.

Beijinhos grandes

6:20 PM  
Blogger J. said...

um passo gigante, sem duvida. prepare-se: outros virão...

9:40 PM  
Blogger Zu said...

Perdoar-me-ás, TSUP, que mais do que o teu post (que me alegrou por ti, e que antes de mim já comentaram dizendo o essencial), saliente o que acabou de dizer o Laurariu Salice. O lado do filho. O lado que intuímos, mas não sabemos ao certo, porque quase sempre eles o calam.

2:18 PM  
Anonymous Anonymous said...

Eu, como filho de pais separados, fico sempre um bocado mal quando sinto que magoei um dos pais. Geralmente, ás escondidas, telefono-lhe a pedir desculpas, e quando desligo o telefone sinto-me logo mais aliviado e pronto para viver o dia.

5:16 PM  
Blogger Tão só, um Pai said...

Zu, este testemunho do Laurariu Salice é importante, na avaliação e reflexão de e sobre determinadas situações.

6:09 PM  
Blogger Tão só, um Pai said...

Anónimo,

É sempre gratificante, para um/uma pai/mãe, saber que o filho está consciente de que o magoou, e que, por isso, lhe pede perdão
.
Mais gratificante, é esse/a pai/mãe aperceber-se de que o filho também não pretende que isso aconteça no futuro.

Um abraço, pá!

12:41 PM  
Blogger Diana Bento said...

Comecei a ler o teu blog hoje... A cada post que passava ficava um tanto triste. Tendo tu dois filhos nas chamadas idades problemáticas, o facto de não haver qualquer contacto com a mãe deles ainda dificulta mais as coisas. Quando terminei de ler este post, fiquei com um enorme sorriso. Fiquei com a impressão de que o vosso relacionamento (pai/filhos) pode melhorar e muito.

Eu também sou filha de pais separados. Tenho 25 e o meu pai saiu de casa tinha eu 6 anos (a minha irmã ainda nem 3). Com o refazer da vida por parte do meu pai, nunca tive oportunidade de conviver com ele, especialmente por causa da esposa dele que se opunha e ele acatava. As poucas vezes que estivemos juntos foi praticamente sempre às escondidas: na escola, no trabalho dele, sem que ela soubesse. Há 5 anos atrás tive uma enorme discussão com ela quando ia fazer uma visita ao meu pai. Ela queria estar sempre presente quando nos encontrassemos, o que pra mim, não tinha pés nem cabeça. Neguei e ela disse que ele era mais dela do que meu, apenas pelo facto de ter sido namorada dele antes de eu nascer. Imaginas? A partir desse dia, o meu pai teve quase 3 anos para voltar a procurar-me. Por medo, não sei... Entretanto, tanto eu como a minha irmã casamos e não o convidamos para o casamento. Quem entrou comigo na igreja foi o meu companheiro da minha mãe, a quem vejo como o Meu pai. Quem me deu o carinho e me matou a fome. Hoje, falo com o meu pai, de longe a longe. Sei que ele é meu pai, mas sinto que não há grande afinidade, confiança.

Agora que estou grávida, apenas desejo com todas as minhas forças e mais as que puder arranjar, que, se tiver que passar pelo mesmo (divórcio), não permita que os meus filhos sintam a falta do amor de mãe e do pai.

Beijinhos e desculpa tanta palavra. Fica bem.

5:03 PM  
Blogger Bekas C. said...

Boa!
Gostei muito do que li. Principalmente do pedido de desculpas e pela "janela".
Tudo vai melhorar!

4:32 PM  
Blogger Clara said...

E assim começas a ver um bocadinho de luz ao fundo do túnel!
Conheço essas críticas, noutros campos. Tomaste a atitude certa, mais uma vez.
Faço votos para que a vossa relação melhore de dia para dia.
Bem sei o que é pois apoio o meu marido nessa confusão que é ser filho de pais separados onde ele ficou esquecido e perdido no meio de tudo. Dos 4, julgo ter sido o que mais perdeu, em tudo.
Tudo de bom para vocês.

3:52 PM  
Blogger Poor said...

é bom ver aqui a perspectiva dos filhos...:)
Mas, PONTO para o Pai!!Esteve bem!Acho importante sobretudo o facto de os filhos sentirem que os pais ainda comunicam e falam sobre eles!
beijinhos

1:00 AM  
Blogger Broken M said...

Acabou de me fazer chorar com a sua história.
Já não tenho o meu pai. E sei a falta que faz. A falta que faz todas as coisas de que eu não gostava.

5:03 PM  
Blogger Sofia said...

Os meus separaram-se quando eu tinha 20 anos (tenho 28 agora). Foi a pior coisa da minha vida e custou-me mais a mim do que à minha irmã que tinha 10 anos na altura. Os meus pais não falaram mais até porque a minha mãe decidiu atribuir a culpa do divórcio a mim. nada correu bem e nenhuma das filhas, especialmente eu, foi protegida. Até aos dias de hoje me sinto mal por tudo o que aconteceu. Apesar de saber que a culpa não foi, não é e nunca será minha custa-me muito. Marcou. Uma das razões pela qual a minha mãe me culpou foi porque o meu pai apontou a maneira como ela me tratava como uma das razões para o divórcio.
O que acho:
esqueça os motivos pelos quais se separou dessa pessoa, ponha as diferenças de lado pelos filhose conjuguem linhas de acção na educação dos filhos. Os filhos deviam ser algo maior que nós próprios. Era o que eu achava, mas nem sempre é assim. Há pais muito egoístas.
Bjs e felicidades.

9:18 PM  
Blogger Sofia said...

Ps- passa pelo meu blog quando quiseres!!

9:24 PM  
Blogger Titá said...

Extraordinário!
O Blog e o Pai! Parabéns. Vou voltar aqui para lhe fazer uma visita

11:44 PM  
Blogger Avozinha said...

Parabéns! Tudo pelos filhos.

12:21 AM  
Blogger Raquel Vasconcelos said...

...um grande sorriso...

9:22 PM  
Anonymous Anonymous said...

Apreciei duplamente este teu relato.

Porque pensei nos meus meninos de ouro....

Há emoções que sangram.
Mas os filhos nunca deveriam ser salpicados poor elas.
Mas nêm todos os Pais são como tu. Infelizmente.

//(~_~)\\ um beijo da Titas


(e vou agradecer à minha 'adoptad' o ter-te trazido até mim)

2:16 PM  
Anonymous Anonymous said...

E quando um pai nunca teve um sentimento de afecto por um filho???? Boas!!! Vim te convidar para conheceres o meu blog e me ajudares apagar as velas. O meu blog faz hoje um ano. Há bolos e champanhe.

2:48 PM  
Blogger car&san said...

Muito bom.Não é por causa de uma separação de pais, que a aducação dos filhos devem ficar de lado.Apreciei quando dizes, que, todo castigo imposto na casa da mãe ,será respeitado na sua.Muito bom, geralmente , o maior defeito dos pais quando se separam, é, um desautorizar o outro.Educação é coisa feito em conjunto com pai e mãe.És um bom pai.Deus te abençoe.

2:39 PM  
Blogger Cláudia Félix Rodrigues said...

Como estive impossibilitada de te visitar por falta de tepo, começo a ler por aqui. Sabes o que acho dos Pais se entenderem. O vosso projecto chamado Casamento acabou, mas o Projecto Filhos será comum até que todos morram. É lindo que se entendam. Beijinho doce

4:21 PM  
Anonymous Anonymous said...

Boas a todos ..


Blog Importante, sempre que prova que os homens gostam dos filhos .. Que toda a gente sabe .. pois . Mas que o Governo Português, e os Juizes de Menores, incrivelmente náo reconhece
(tb muito por culpa dos pais, que nada fazem . mas com os Portugueses, já sabemos que é assim - ""falam, falam, mas não os vemos a fazer nada"" como dizia o do gato fed



Para ver assuntos téoricos e práticos, sobre o que se passa em Portugal com Pais Separados dos filhos , devido a mães e juizes , podem ver :

Associação 26-4, Pais Separados dos filhos à força

e ...

Noticias e outros sobre Pais e Filhos Separados



Para ver o site - blog, dos SUPER PAIS portugueses, podem ver
SUPER PAIS Portugueses
- Pais que lutam pelos direitos dos filhos, pelos deles, e pelas crianças maltratadas .




Em breve, na parte das noticias, e ao ver aqui vários depoimentos de filhos , vamos fazer uma pequena sondagem a filhos de pais separados .. Ideias, etc, para essa songagem (no fundo, ter depoimentos de filho de pais separados, e a separação ) pode dizer .

1:14 PM  
Anonymous Anonymous said...

...não sou pai, sou mãe. Há dois anos e oito meses q n vejo a minha filha. O pai acabou por separar-nos. A minha filha tem agora 16 anos. Fico feliz pelo vosso diálogo, considero importante para os filhos, em todos os sentidos! Chego a invejar...
Continuem assim. Pelos vossos filhos. Do fundo do coração!

1:20 AM  
Anonymous Anonymous said...

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6:16 AM  

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