A dos óculos …
Quando a mãe foi internada e fomos viver para casa dos meus sogros, passei a levavá-los à escola do SAD. Ele ficava na secção da primária, ela no jardim de infância.
Depois do leitinho, era a muda da fralda, e uns olhinhos desafiadores a pedirem aquelas dentadinhas na barriguita para as gargalhadas matinais. Sim, rituais de Pai e Filha. Ah, meu Deus, e aquele cheirinho de bébé misturado com a água de colónia da Ausónia. Tantos beijinhos e conversas insondáveis nós tínhamos nesses momentos. A avó materna fazia questão de aperaltar a minha mais do que tudo, e de pôr na ordem este Pai destravado, que tendia sempre a atrasar-se nestes cuidados.
Por algum motivo de que não me recordo, já evitávamos o uso do alfinete de ama com a correntinha de plástico. Provavelmente por questões de segurança. Por isso, convinha ter sempre umas chuchinhas de reserva no saco da roupa e das fraldas. É que a sujeitinha gostava de falar, equanto apontava para tudo o que lhe passava á frente e balbuciava os seus comentários em código “bébês”.
Quantos aninhos teria ela? Talvez dois, ou nem isso. Só me lembro que ainda não andava, mas já gatinhava. E da colecção de chuchas que fomos juntando, por necessidade e por impulso, sempre que víamos uma mais engraçada.
Nessa manhã, escolhi a dos óculos. Esclareço, a pega da chucha tinha a forma de uns óculos. Comprei-a, na minha incursão semanal á secção de puericultura do hipermercado. Claro, em dado momento, a menina esticou o braçinho, sempre com aquele dedinho apontado para o alvo da sua exclamação, proferiu a correspondente sentença e … chucha para o chão. Como habitualmente, explicou-me que queria outra. Pois bem, aqui está ela, que esta vai para o meu bolso das chuchas sujas.
Já no trabalho, apercebi-me de um volume diferente no casaco. Lá estava ela. Sorri-lhe, recordando eternecidamente o momento em que a a deixou cair, os sons balbuciados, e pensei, “… já tens tantas…”. Guardei-a comigo, no tabuleiro dos lápis e das canetas.
Nove anos depois, ainda sorrio quando a avisto. Ahhhh ...! Que vontade tenho de chuchar um bocadinho. Como hoje. Que saudades do meu ultimo bébé.
Voltando uns anos atrás, já com a menina mais crescidinha, num dos meus regressos solitários a casa, sentado num combóio, assaltou-me o mesmo sentimento, o de uma saudade enorme da minha bébé, de ter uma bébé, a memória do seu cheiro, enroscada em mim, abraçando-me com aqueles bracitos rechonchudos e ternos. Nesse dia, enquanto preparávamos os jantares, confidenciei à Mãe o sucedido. Depois de um breve silêncio, disse-me, calmamente, “Pois … agora, só se for adoptada”. Apesar de já não podermos gerar outro filho, as saudades não me eram exclusivas.
Depois do leitinho, era a muda da fralda, e uns olhinhos desafiadores a pedirem aquelas dentadinhas na barriguita para as gargalhadas matinais. Sim, rituais de Pai e Filha. Ah, meu Deus, e aquele cheirinho de bébé misturado com a água de colónia da Ausónia. Tantos beijinhos e conversas insondáveis nós tínhamos nesses momentos. A avó materna fazia questão de aperaltar a minha mais do que tudo, e de pôr na ordem este Pai destravado, que tendia sempre a atrasar-se nestes cuidados.
Por algum motivo de que não me recordo, já evitávamos o uso do alfinete de ama com a correntinha de plástico. Provavelmente por questões de segurança. Por isso, convinha ter sempre umas chuchinhas de reserva no saco da roupa e das fraldas. É que a sujeitinha gostava de falar, equanto apontava para tudo o que lhe passava á frente e balbuciava os seus comentários em código “bébês”.
Quantos aninhos teria ela? Talvez dois, ou nem isso. Só me lembro que ainda não andava, mas já gatinhava. E da colecção de chuchas que fomos juntando, por necessidade e por impulso, sempre que víamos uma mais engraçada.
Nessa manhã, escolhi a dos óculos. Esclareço, a pega da chucha tinha a forma de uns óculos. Comprei-a, na minha incursão semanal á secção de puericultura do hipermercado. Claro, em dado momento, a menina esticou o braçinho, sempre com aquele dedinho apontado para o alvo da sua exclamação, proferiu a correspondente sentença e … chucha para o chão. Como habitualmente, explicou-me que queria outra. Pois bem, aqui está ela, que esta vai para o meu bolso das chuchas sujas.
Já no trabalho, apercebi-me de um volume diferente no casaco. Lá estava ela. Sorri-lhe, recordando eternecidamente o momento em que a a deixou cair, os sons balbuciados, e pensei, “… já tens tantas…”. Guardei-a comigo, no tabuleiro dos lápis e das canetas.
Nove anos depois, ainda sorrio quando a avisto. Ahhhh ...! Que vontade tenho de chuchar um bocadinho. Como hoje. Que saudades do meu ultimo bébé.
Voltando uns anos atrás, já com a menina mais crescidinha, num dos meus regressos solitários a casa, sentado num combóio, assaltou-me o mesmo sentimento, o de uma saudade enorme da minha bébé, de ter uma bébé, a memória do seu cheiro, enroscada em mim, abraçando-me com aqueles bracitos rechonchudos e ternos. Nesse dia, enquanto preparávamos os jantares, confidenciei à Mãe o sucedido. Depois de um breve silêncio, disse-me, calmamente, “Pois … agora, só se for adoptada”. Apesar de já não podermos gerar outro filho, as saudades não me eram exclusivas.
31 Comments:
É dessas saudades 'boas' que a vida é feita...
Que posso dizer? Que recordas os teus momentos de uma forma muito bela :)
Bjs
Tu deves ser daqueles homens deliciosos cuja voz muda quando fala dos seus pequenitos. Adorei. Beijinho doce
Caro Pai:
Há ainda os netos...
Bom Dia,
Que deliciosas as recordações... boas, gostosas... cheirosas... mimosas... Podes sempre ter mais bébés... os homens têm essa facilidade...
Bom vocês terem essa conversa. Muiiiito Bom!
Esses pequenos momentos é que nos enchem a vida, certo?
Fragmentos como um sorriso, uma birra, um pequeno acidente doméstico, ficam gravados na nossa memória.
O meu pai é parecido contigo, mas descrições... muda aquele rosto lindo e a voz quando fala da nossa infância ou dos "piquenos" que vai convivendo, visto ainda não ter os esperados netos.
Até um destes dias...
fiquei com um daqueles sorrisos bobinhos... gosto muito de te ler, já te tinha dito?
Como eu te entendo...também tenho saudades do meu bébe...já tem 7 anos!
Carla
Nestas alturas fica a pena de não se ter tido um filho. Bonito, Pai.
Uma ternura de texto. Aquela ternura que sinto, sempre que olho os meus filhos e desejava pegar neles ao colo e ficar assim, com eles aconchegadinhos...
Mas a tua capacidade de tão calmamente e serenamente, falares de sentimentos e momentos tão belos, como o são aqueles que passamos com as nossas crianças, chega até a ser comovente...
Tenho 2 filhos, e sonho a hora em que outro bebé caia em meus braços...
Agora, quem sabe, um dia os netos. Sonho com essa hora...
Um abraço de uma Mãe...
lindo recordar. mas creio k não vale a pena ter suadades. é outra a idade, mas a ternura, noutras formas, é igualmente doce. Bjs e ;)
Ora até q enfim...e voltaste em força :)
Muito bonito o texto e qto ao nº de "chuchas",deste-me agora uma ideia para um futuro post meu :)
bjokas ":o)
E não mal nenhum em adoptar!
Há muita gente a precisar dum pai assim...
Embora o mais piquinito ainda tenha 3 anos, já tenho saudades dum bébé...do cheiro, do 1º sorriso, do gatinhar...como é bom ser mãe/pai!
Quando chegam à adolescência já não é tão ternurento...
beijinho grande
Saudades... tantas! Também as tenho...
o cheirinho a bebé, as chuchinhas, as fraldinhas. Beijinhos na barriga, beijinhos nos pés... como te compreendo...
Gostei muito do teu blogue, muito mesmo!
beijos de uma Mãe!
A minha ainda é pequenita, tem 32 meses, mas quando vejo os recém-nascidos... Ai que saudades!!!
Beijinhos
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Olá...
É a 1ª vez que visito o teu blog e após ter lido vários textos que nele se encontram não pude resistir a comentar.
Sou pouco mais velha que o seu filho e a relação que tem com ele e com a sua filha fazem-me pensar que a minha e a do meu Pai poderia ter sido assim, ou talvez ainda mais próxima. No entanto, infelizmente o meu Pai faleceu quando eu tinha 9 anos. Era apenas uma criança, mas lembro-me praticamente de tudo o que passei com ele. E tenho pena de não ter aproveitado melhor o tempo que passei com ele. Foram tantos minutos desperdiçados a ver televisão que poderiam ter sido trocados por um passeio a três no qual a companhia, o amor e a cumplicidade de Pais e Filha estariam presentes.
Só tenho uma pequenita mensagem a passar. Sei que posso ser nova demais mas há coisas que penso que ainda tenho alguma razão. Tire o máximo de proveito de todos os minutos que tem com os seus filhos, mesmo que eles estejam a ver televisão, a jogar no computador, a fazer qualquer coisa sozinhos... Mesmo que não possa participar, mostre-se interessado, atento. E mais importante que nunca... Nunca se esqueça de dizer que os ama. Isso é a coisa mais bonita que uma Filha/um Filho pode ouvir de um pai, não só pelo significado da palavra, mas sim porque é verdadeiro.
Um beijinho e força.
Andreia Pereira
Olá, passei para ver a loja e para te deixar um beijinho!
Este post está giro. Gostei, sim senhor!
Fica bem!
Parabéns!
Bonito blog, que eu conheço através da Titas. Até dá vontade de recomeçar a escrever no meu www.vamoslixartudo.blogspot.com
CC
www.cdsloures2005.blogs.sapo.pt
(não vale deixar-nos tanto tempo sem os teus lindos textos.. espero que esteja tudo bem)
Bom fs. Passa lá por casa, precisamos de ti. Bjs e
Nesta primeira vez que por aqui passei fiquei rendida aos teus textos..., também tenho saudades de um bebé e ainda os tenho tão bebés, ou será que para nós os filhos são sempre bebés?
Meu querido Tão Só, Um Pai
É nestas alturas que uma palavra de apreço é mais bem vinda.
E estou a passar um mau momento, graças às calúnias de certa gente que anda por aí. Uns más línguas, cobardes, que me atacaram pelas traseiras.
Claro que a verdade está reposta, devidamente documentada, o processo judicial em curso, mas mesmo assim,
um jesto de solidariedade é uma benção.
Estou-te profundamente agradecida. Do fundo do meu coração.
Aliás, toda esta polémica me afectou de tal maneira, que parto na sexta-feira para águas mediterrânicas.
Queres que te deixe o meu carro. Aquele cuja matrícula é qualquer coisa - qualquer coisa - UI?
§(~_~)§ beijo da Afrodite
E é lá possivel não se sentir saudades de uma coisa tão maravilhosa e grande como um bebé? Não é...
Ai Pai, que tivesse eu vida e um pai à altura, e tinha já mais uma data deles seguidos... Podes apostar. :)
De todo o modo, um texto lindíssimo, as always... :)
Beijinho mais que grande, mais que doce...
... Então se soubesse o sabor da "maternidade" uiiiii!!!!!!!... Msas ouça, vim aqui para lhe dizer que tudo isto é sublimação. ...... Quanta "fuga para a frente meu deus"!!! (mas vá lá, não é das piores. As crianças devem ser mesmo a nossa perdição se, (também) tivrermos em conta, que serão a geração do futuro. ..................... Lembra-se da "Mia" (mais ou menos anónima do "Murcon"? ... sou eu!.... nunca me respondeu....)
Um beijo.
Bom fim de semana.
quero um ´bebe só pa mim!!! eheh
está tudo bem por esses lados?
espero que a ausência se deva a boas razões...
um beijo
Ó vizinho, as crianças são o melhor do mundo, mas há que ter uma paciência... E sabedoria também, para não nos deixarmos levar! O Senhor deve ser um pai maravilhoso... Olhe, desejo-lhe muitas felicidades!
Vagueei e passei por aqui a primeira vez.
O teu texto deixou-me enternecida...tão cheio de doçura...
Sou mãe de três filhos e nunca me passou pela cabeça que os pais sentissem-se da mesma forma que nós....
Os nossos filhos são os nossos maiores tesouros...
Um beijo e que sejas muito feliz.
(Ps. pela forma que sentes só podias ser um capricòrnio...como eu..)
Um texto lindo que me emocionou bastante e me fez lembrar que a minha bébé não o será sempre por isso há que aproveitar ao maximo.
É com profunda ternura que nos sentimos ao ler tamanha saudade... Foi um amor de pai k me fez desejar ser mãe e dar um segundo filho ao pai inspirador.
Seguro o meu filho com o seu cheirinho de 25 dias e respiro-o até à alma...
Um dia terei esse cheiro também na memória.
Feliz a descoberta deste cantinho onde se lê tão só um pai transparente de amor pelos seus filhos.
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