Thursday, August 11, 2005

A dos óculos …

Quando a mãe foi internada e fomos viver para casa dos meus sogros, passei a levavá-los à escola do SAD. Ele ficava na secção da primária, ela no jardim de infância.

Depois do leitinho, era a muda da fralda, e uns olhinhos desafiadores a pedirem aquelas dentadinhas na barriguita para as gargalhadas matinais. Sim, rituais de Pai e Filha. Ah, meu Deus, e aquele cheirinho de bébé misturado com a água de colónia da Ausónia. Tantos beijinhos e conversas insondáveis nós tínhamos nesses momentos. A avó materna fazia questão de aperaltar a minha mais do que tudo, e de pôr na ordem este Pai destravado, que tendia sempre a atrasar-se nestes cuidados.

Por algum motivo de que não me recordo, já evitávamos o uso do alfinete de ama com a correntinha de plástico. Provavelmente por questões de segurança. Por isso, convinha ter sempre umas chuchinhas de reserva no saco da roupa e das fraldas. É que a sujeitinha gostava de falar, equanto apontava para tudo o que lhe passava á frente e balbuciava os seus comentários em código “bébês”.

Quantos aninhos teria ela? Talvez dois, ou nem isso. Só me lembro que ainda não andava, mas já gatinhava. E da colecção de chuchas que fomos juntando, por necessidade e por impulso, sempre que víamos uma mais engraçada.
Nessa manhã, escolhi a dos óculos. Esclareço, a pega da chucha tinha a forma de uns óculos. Comprei-a, na minha incursão semanal á secção de puericultura do hipermercado. Claro, em dado momento, a menina esticou o braçinho, sempre com aquele dedinho apontado para o alvo da sua exclamação, proferiu a correspondente sentença e … chucha para o chão. Como habitualmente, explicou-me que queria outra. Pois bem, aqui está ela, que esta vai para o meu bolso das chuchas sujas.

Já no trabalho, apercebi-me de um volume diferente no casaco. Lá estava ela. Sorri-lhe, recordando eternecidamente o momento em que a a deixou cair, os sons balbuciados, e pensei, “… já tens tantas…”. Guardei-a comigo, no tabuleiro dos lápis e das canetas.

Nove anos depois, ainda sorrio quando a avisto. Ahhhh ...! Que vontade tenho de chuchar um bocadinho. Como hoje. Que saudades do meu ultimo bébé.

Voltando uns anos atrás, já com a menina mais crescidinha, num dos meus regressos solitários a casa, sentado num combóio, assaltou-me o mesmo sentimento, o de uma saudade enorme da minha bébé, de ter uma bébé, a memória do seu cheiro, enroscada em mim, abraçando-me com aqueles bracitos rechonchudos e ternos. Nesse dia, enquanto preparávamos os jantares, confidenciei à Mãe o sucedido. Depois de um breve silêncio, disse-me, calmamente, “Pois … agora, só se for adoptada”. Apesar de já não podermos gerar outro filho, as saudades não me eram exclusivas.

31 Comments:

Blogger Ana Luísa said...

É dessas saudades 'boas' que a vida é feita...
Que posso dizer? Que recordas os teus momentos de uma forma muito bela :)
Bjs

5:01 PM  
Blogger Cláudia Félix Rodrigues said...

Tu deves ser daqueles homens deliciosos cuja voz muda quando fala dos seus pequenitos. Adorei. Beijinho doce

9:54 PM  
Blogger Avozinha said...

Caro Pai:
Há ainda os netos...

10:26 PM  
Blogger PARTILHAS said...

Bom Dia,

Que deliciosas as recordações... boas, gostosas... cheirosas... mimosas... Podes sempre ter mais bébés... os homens têm essa facilidade...

Bom vocês terem essa conversa. Muiiiito Bom!

9:31 AM  
Blogger Clara said...

Esses pequenos momentos é que nos enchem a vida, certo?
Fragmentos como um sorriso, uma birra, um pequeno acidente doméstico, ficam gravados na nossa memória.
O meu pai é parecido contigo, mas descrições... muda aquele rosto lindo e a voz quando fala da nossa infância ou dos "piquenos" que vai convivendo, visto ainda não ter os esperados netos.
Até um destes dias...

10:15 AM  
Blogger AnaBond said...

fiquei com um daqueles sorrisos bobinhos... gosto muito de te ler, já te tinha dito?

12:18 PM  
Blogger Carla Santos Alves said...

Como eu te entendo...também tenho saudades do meu bébe...já tem 7 anos!

Carla

2:45 PM  
Blogger Raquel Vasconcelos said...

Nestas alturas fica a pena de não se ter tido um filho. Bonito, Pai.

3:42 PM  
Blogger Menina Marota said...

Uma ternura de texto. Aquela ternura que sinto, sempre que olho os meus filhos e desejava pegar neles ao colo e ficar assim, com eles aconchegadinhos...
Mas a tua capacidade de tão calmamente e serenamente, falares de sentimentos e momentos tão belos, como o são aqueles que passamos com as nossas crianças, chega até a ser comovente...
Tenho 2 filhos, e sonho a hora em que outro bebé caia em meus braços...

Agora, quem sabe, um dia os netos. Sonho com essa hora...

Um abraço de uma Mãe...

6:57 PM  
Blogger Conceição Paulino said...

lindo recordar. mas creio k não vale a pena ter suadades. é outra a idade, mas a ternura, noutras formas, é igualmente doce. Bjs e ;)

5:55 PM  
Blogger Anna^ said...

Ora até q enfim...e voltaste em força :)
Muito bonito o texto e qto ao nº de "chuchas",deste-me agora uma ideia para um futuro post meu :)

bjokas ":o)

8:59 AM  
Blogger Broken M said...

E não mal nenhum em adoptar!
Há muita gente a precisar dum pai assim...

3:57 PM  
Blogger Eva Lima said...

Embora o mais piquinito ainda tenha 3 anos, já tenho saudades dum bébé...do cheiro, do 1º sorriso, do gatinhar...como é bom ser mãe/pai!
Quando chegam à adolescência já não é tão ternurento...
beijinho grande

11:53 AM  
Blogger stela said...

Saudades... tantas! Também as tenho...
o cheirinho a bebé, as chuchinhas, as fraldinhas. Beijinhos na barriga, beijinhos nos pés... como te compreendo...
Gostei muito do teu blogue, muito mesmo!

beijos de uma Mãe!

8:31 PM  
Blogger Salta Pocinhas said...

A minha ainda é pequenita, tem 32 meses, mas quando vejo os recém-nascidos... Ai que saudades!!!
Beijinhos

12:03 PM  
Blogger Mikas said...

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10:53 PM  
Blogger Mikas said...

Olá...
É a 1ª vez que visito o teu blog e após ter lido vários textos que nele se encontram não pude resistir a comentar.
Sou pouco mais velha que o seu filho e a relação que tem com ele e com a sua filha fazem-me pensar que a minha e a do meu Pai poderia ter sido assim, ou talvez ainda mais próxima. No entanto, infelizmente o meu Pai faleceu quando eu tinha 9 anos. Era apenas uma criança, mas lembro-me praticamente de tudo o que passei com ele. E tenho pena de não ter aproveitado melhor o tempo que passei com ele. Foram tantos minutos desperdiçados a ver televisão que poderiam ter sido trocados por um passeio a três no qual a companhia, o amor e a cumplicidade de Pais e Filha estariam presentes.
Só tenho uma pequenita mensagem a passar. Sei que posso ser nova demais mas há coisas que penso que ainda tenho alguma razão. Tire o máximo de proveito de todos os minutos que tem com os seus filhos, mesmo que eles estejam a ver televisão, a jogar no computador, a fazer qualquer coisa sozinhos... Mesmo que não possa participar, mostre-se interessado, atento. E mais importante que nunca... Nunca se esqueça de dizer que os ama. Isso é a coisa mais bonita que uma Filha/um Filho pode ouvir de um pai, não só pelo significado da palavra, mas sim porque é verdadeiro.

Um beijinho e força.

Andreia Pereira

11:01 PM  
Anonymous Anonymous said...

Olá, passei para ver a loja e para te deixar um beijinho!

Este post está giro. Gostei, sim senhor!

Fica bem!

9:59 AM  
Blogger Carlos Caldeira said...

Parabéns!
Bonito blog, que eu conheço através da Titas. Até dá vontade de recomeçar a escrever no meu www.vamoslixartudo.blogspot.com
CC
www.cdsloures2005.blogs.sapo.pt

12:06 AM  
Blogger AnaBond said...

(não vale deixar-nos tanto tempo sem os teus lindos textos.. espero que esteja tudo bem)

12:35 PM  
Blogger Conceição Paulino said...

Bom fs. Passa lá por casa, precisamos de ti. Bjs e

5:55 PM  
Blogger mar revolto said...

Nesta primeira vez que por aqui passei fiquei rendida aos teus textos..., também tenho saudades de um bebé e ainda os tenho tão bebés, ou será que para nós os filhos são sempre bebés?

5:37 AM  
Blogger Afrodite said...

Meu querido Tão Só, Um Pai
É nestas alturas que uma palavra de apreço é mais bem vinda.
E estou a passar um mau momento, graças às calúnias de certa gente que anda por aí. Uns más línguas, cobardes, que me atacaram pelas traseiras.
Claro que a verdade está reposta, devidamente documentada, o processo judicial em curso, mas mesmo assim,
um jesto de solidariedade é uma benção.

Estou-te profundamente agradecida. Do fundo do meu coração.

Aliás, toda esta polémica me afectou de tal maneira, que parto na sexta-feira para águas mediterrânicas.

Queres que te deixe o meu carro. Aquele cuja matrícula é qualquer coisa - qualquer coisa - UI?

§(~_~)§ beijo da Afrodite

10:11 PM  
Blogger C_de_Ciranda said...

E é lá possivel não se sentir saudades de uma coisa tão maravilhosa e grande como um bebé? Não é...
Ai Pai, que tivesse eu vida e um pai à altura, e tinha já mais uma data deles seguidos... Podes apostar. :)

De todo o modo, um texto lindíssimo, as always... :)

Beijinho mais que grande, mais que doce...

1:37 AM  
Blogger naoseiquenome usar said...

... Então se soubesse o sabor da "maternidade" uiiiii!!!!!!!... Msas ouça, vim aqui para lhe dizer que tudo isto é sublimação. ...... Quanta "fuga para a frente meu deus"!!! (mas vá lá, não é das piores. As crianças devem ser mesmo a nossa perdição se, (também) tivrermos em conta, que serão a geração do futuro. ..................... Lembra-se da "Mia" (mais ou menos anónima do "Murcon"? ... sou eu!.... nunca me respondeu....)
Um beijo.
Bom fim de semana.

11:26 PM  
Anonymous Anonymous said...

quero um ´bebe só pa mim!!! eheh

3:05 AM  
Blogger AnaBond said...

está tudo bem por esses lados?
espero que a ausência se deva a boas razões...

um beijo

10:45 AM  
Blogger Diolindinha said...

Ó vizinho, as crianças são o melhor do mundo, mas há que ter uma paciência... E sabedoria também, para não nos deixarmos levar! O Senhor deve ser um pai maravilhoso... Olhe, desejo-lhe muitas felicidades!

6:33 PM  
Blogger margusta said...

Vagueei e passei por aqui a primeira vez.
O teu texto deixou-me enternecida...tão cheio de doçura...
Sou mãe de três filhos e nunca me passou pela cabeça que os pais sentissem-se da mesma forma que nós....
Os nossos filhos são os nossos maiores tesouros...
Um beijo e que sejas muito feliz.

(Ps. pela forma que sentes só podias ser um capricòrnio...como eu..)

11:01 AM  
Blogger Lúcia said...

Um texto lindo que me emocionou bastante e me fez lembrar que a minha bébé não o será sempre por isso há que aproveitar ao maximo.

7:54 PM  
Blogger Jane & Cia said...

É com profunda ternura que nos sentimos ao ler tamanha saudade... Foi um amor de pai k me fez desejar ser mãe e dar um segundo filho ao pai inspirador.
Seguro o meu filho com o seu cheirinho de 25 dias e respiro-o até à alma...
Um dia terei esse cheiro também na memória.
Feliz a descoberta deste cantinho onde se lê tão só um pai transparente de amor pelos seus filhos.

10:50 PM  

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