Monday, October 24, 2005

Olha ...! Malhou!

Ela, "... e caíu, fui com ele ao hospital à noite, por causa dum joelho que está muito magoado ...". Eu, "Porque não me disseste? Ia lá ter ...", "Não ias adiantar nada ... ", "Mas estava lá ...!". Contou-me, ainda, algo sobre radiografias, o ortopedista ou ir á ortopedia, condicionado á evolução, no curto prazo, do estado do joelho. Por esta altura já não ouvia grande coisa, pensava noutras e, ela, também estava nervosa e pouco ávontade em se alargar nas explicações. Não compreendia esta mãe. Afinal, sempre fui uma pessoa com um certo sangue frio nas horas de aflição. Depois? Depois, sim, saía do transe e aterrava com o mundo às costas, descarregado num balde de lágrimas, a sós, para os miúdos não perceberem.

No fim do ano passado, o filhão veio ter comigo. Tinha feito as contas para a carta da mota, a mim calhava-me "x", queria saber se concordava. A contragosto, " .... sssss ... ssss ... ssss ... ssss ....". Bolas, eu bem soprava, mas não saía. Depois, a língua lá foi tomando forma, passou por um "sz ... ssssszzzzz ..." e, finalmente "sssiiii ... ssssiiiii ... sssssim". Custou. Não pela carta, já há muito queria que ele a tivesse obtido, mas pelo custo. Era preferível. Como o bandido já andava a brincar com as motoretas dos amigos, ao menos que soubesse o que andava a fazer.

Depois de juntar a massa, proporcionou-se ao filhote um bom negócio para a aquisição da mota, antes da carta tirada. Disse-lhe, "Porreiro, mas para motas e cartas, acabaram-se as contribuições". Ah, pois, era suposto ele ter desenrascado algum a trabalhar no Verão ...
No dia em que lhe passaram a motita para as mãos, deixou uma amiguinha de eleição dar uma voltinha. Como a pequena nunca tinha pegado numa coisa destas, ainda com o volante todo virado para a esquerda, vai de acelerar e espetou-se contra um carro estacionado. Cabo dos trabalhos, custos a repartir, no carro e na mota, que até nem sofreu grande estrago. Pobre mãe.

Veio-me guardar a máquina na garagem lá de casa, o que achei muito bem. Olhos que não vêm, coração que não sente. Com a garagem sempre fechada e ele sem o comando do portão, não lhe tocou. O que deveria acontecer, até ter dinheiro para a pôr no "Sr. António das Motas", a arranjar.

No outro fim de semana, comigo, lá o deixei dar uma voltinha ao quarteirão. Não gostei do que vi. Estava mais preocupado em ver se a mota alcançava os 70 à hora. Curvas? Todas na contra-mão. Meti-me á pendura, foi uma hora de lição. Piscas a assinalar toda e qualquer mudança de direcção, curvas na perpendicular, velocidade reduzida e adequada á estrada em que seguia, e nunca passar, nesta fase, dos 30 à hora. Paragens nos stops, travão, pé no chão, olhar sempre para todos os lados e só arrancar quando for seguro. A mota é sempre o mais frágil. No fim, mais sermão, revisão da matéria dada e toca de guardar a máquina porque é hora da matemática.

Dois dias depois, quer levar a mota para casa da mãe, ao que parece com o seu conhecimento, planeando, na tarde seguinte, uma incursão ao tal Sr. António mecânico. "E a mãe sabe?", que sim. Deixou-a na rua, durante a noite, em frente à porta do prédio onde mora, o que me inquietou. Larápios para estas coisas abundam. Dois dias depois, foi o telefonema da mãe, com que começou esta história. Adiou a ida ao mecânico, foi dar uma volta com os amigos "motard", teve que fazer uma travagem súbita e caíu, com o peso da "bicha" em cima do joelho que, agora, já está muito melhor.

A carta? Mesmo para cilindradas até 50 cm 3, tirar a carta tornou-se algo de surrealista. Para espanto meu, com a alteração legislativa recente, os encartados para ligeiros já não estão automaticamente habilitados a conduzir uma motoreta. Também têm de tirar uma a carta diferente para a ditas.

Tal como os miúdos, todos temos de nos auto-propôr a exame, estudando em casa, quer o código, quer a condução prática. Pois, como é que os não encartados podem praticar na rua e no trânsito, se não têm carta e, por esse motivo, seguro? Para o exame, têm de levar a mota. Mas como, se não têm carta e o seguro apenas é concedido ao proprietário encartado? Ah, mas para o exame, isto não se fica por aqui. Há que levar carro com condutor, para transportar o examinador. Um dia destes, será necessário fornecer a estrada, os sinais de trânsito, e por aí adiante. As motas? Continuam a vender-se. E "nós", eu, ele e a mãe, em que ficamos? Não volta a pegar na "bicha" sózinho, enquanto não tiver a carta. Como é que aprende? À volta do quarteirão com o "velho" no lugar do pendura. E pelo manual, o código. Chega de invenções e ponto final. Calha bem, ainda tiro, também eu, a carta desta coisa. Vamos a ver se o miúdo ma empresta. Ou preferem apostar?

28 Comments:

Anonymous Anonymous said...

...parece-me que vais ficar apeado, ai vais, vais!...

;*

Beijinho

9:32 AM  
Anonymous Anonymous said...

...eu já passei por essas angustias com um e há dois a começar a falar no mesmo...
convém que saibam o que as miudas pensam de quem anda muito depressa: "o gajo tem a pila pequena!"(há fins que justificam os meios!)
abraço, boa sorte
zecca

9:59 AM  
Blogger Anna^ said...

Ai ai, estas fases "motorizadas" dos nossos filhotes dão cabo de nós.Achei um piadão ao q te custou dizer que ssss...ssszzzzz.....simmm.
Cá em casa ,já se passou por isso com o David, mas ainda temos lista de espera.Numa coisa estamos completamente de acordo:só falta mesmo fornecer TUDO para q a "carta" lhes seja facultada...e por falar nisso,acho q devias aproveitar a onda e volta e meia "cravar" a moto ao puto...foge-se ao trânsito e ganha-se em tempo :)

bjokas e fica bem ":o)

11:00 AM  
Blogger Tão só, um Pai said...

Anónima/o das 9:32 AM
... o amor de filho não costuma ser extensível a alguns "objectos". Mas, sei lá, posso trocar explicações por voltinhas de mota ...

Anónima Zecca:
As miúdas são terríveis ... mas no grupo do filhote, há tantas motard miúdas como os motard miúdos. Só que elas são mais ajuizadinhas ... snif, snif ..


Annicas,
Ai vou na onda, vou. Nem que tenha de cravar a motoreta a um amigo ... que não a esteja a utilizar ...

11:42 AM  
Blogger Eva Lima said...

Já agora aproveita a ocasião mais a boleia, pode ser que fique mais barato...tem cuidado com o joelho!!!

Bom regresso, estava a ver que nunca mais!!!!

3:26 PM  
Blogger Jolie said...

hehehehe

Espero que o joelho recupere rapidamente e sem mazelas futuras.

Daqui a uns anos quem vai tirar a carta de mota sou eu!!!

Beijinhos

3:43 PM  
Blogger Clara said...

Também tive essa "tara", mas passou-me, felizmente! Não cheguei a ter moto nem carta (ainda bem senão não sei se estaria inteira)
Mas é sempre 1 prazer dar 1 voltinha saudável, à pendura, numa moto no fim de 1 tarde de verão.
As melhoras do gaiato!

4:12 PM  
Blogger Ana Luísa said...

Começo a achar que as mães/mulheres acham que conseguem fazer e 'suportar' (quase) tudo sózinhas... Não é defeito, é "feitio" :)
Em relação ao teu filhote, espero que esteja melhor do joelho. Quanto à vontade da mota, acho que é normal nesta idade. Lembro-me dos meus primos nesta idade e era a mesma coisa... E eu que nunca experimentei!!! :(
E agora ainda houve os "Morangos com Açúcar" cujas personagens principais eram dois 'campeões' do motocross ("Ana Luísa" e "Simão") e não sei se isso não influencia os 'teenagers'...
Um beijinho

4:33 PM  
Blogger J. said...

Conheço bem a parte de ouvir "mas eu ía lá ter" e costumo dizer, com frequencia "não adiantavas nada".
é bom ser-se adolescente. se não é a adrenalina da mota, será de qualquer outra coisas... mas quem não guarda boas recordações das asneiras que fez?
beijinhu

6:01 PM  
Blogger Márcia Carvalho said...

Esta coisa dos "Morangos com Açucar" dá cabo da vida de um pai!

2:46 PM  
Anonymous Anonymous said...

Antes de mais devo dizer que já tinha saudades destes posts. Ainda bem que regressou! E, claro, muita sorte para esta nova aventura. Não vai ser fácil.
Um abraço

1:03 PM  
Blogger maria said...

Por acaso foi um dos sonhos de adolescente que não concretizei - adoraria ter tido uma lambreta. Imaginava-me a ir para a escola, para todo o lado nela. Não sei como esse desejo passou para os filhos, juro que nunca falei nesse gosto. O mais velho acatou os nossos conselhos e desistiu da ideia. Ainda há dois, mas já não tenho paciência para argumentar.
Não sabia dessas complicações para tirar a carta. Absurdo.

6:41 PM  
Blogger Roberto Iza Valdés said...

This comment has been removed by a blog administrator.

7:10 AM  
Blogger LP said...

Este comentário não tem nada a ver com o que escreveste:

- Vinha cá quase diariamente e nada.
- Deixei de vir e agora passo por cá e já escreveste há quase 15 dias!
- Como sempre gostei!

Beijinhos

1:22 PM  
Anonymous Anonymous said...

Quase cota, tb passei a gostar de BTT e de Fórmula I - afinal, é a abertura de espírito que os filhos, mais do que os amigos, propiciam.
Viva tsuP
Ester

9:53 AM  
Anonymous Anonymous said...

Cheguei ao seu blog por acaso mesmo.
E me apaixonei pelos textos. Muito mesmo, principalmente por conhecer um pouco desse tipo de relação.

Sou filha de pais divorciados desde sempre (desde que eu me lembre pelo menos) e pude assim, através dos seus textos, conhecer pelo menos um pouquinho do que sempre esteve no coração de meu pai!

Também eu e meu irmão ficamos a viver com a mãe e também tínhamos as "visitas do pai". Também eu tive episódios como os da toalha de praia com o meu pai. E meu irmão também teve seu episódio "motocicleta".

E assim agora com os olhos cheios de lágrimas teimosas que insistem em descer pelo meu rosto posso dizer-lhe me fez muito bem pensar no que meu pai pensou/ sentiu ...

Ou seja, nós filhos, enquanto crianças e adolescentes não nos damos conta de que pais são pessoas. Para nós são mesmo apenas pais e mães. Somente depois na vida adulta quando nos damos por desejar pequenos seres para amarmos e mimarmos e educarmos é que começamos a nos colocar na pele de pais e mudamos a nossa visão dos nossos.

Tenho a certeza de que as suas duas preciosidades amam-te muito, mesmo querendo que alteres o seu jeito de vestir ou outras coisas desse tipo.

Espero que um dia seus filhos possam perceber o que acabei de perceber hoje lendo o seu blog.

Ah! E se quiser tirar alguma dúvida sobre questões e comportamentos de filho, pode ser que eu consiga ajudar em alguma coisa.
Parabéns pelos textos belíssimos!

1:23 PM  
Blogger Que Bem Cheira A Maresia said...

Olha, acho que um dia destes o miúdo vai atar as mãos na cabeça com um pai motard e ele de pendura e descansa que não serás sequer o primeiro nem o último :).

Pensei que este espaço tinha acabado, ainda bem que me enganei.É que eu nos entretantos recomecei no primeiro que tive :)

Beijo da Lina (mar revolto) eX entre o tudo e o nada

5:00 AM  
Blogger Rubim said...

Bela historia, de paciência e responasbilidade paternal.

Gostei de ler vou voltando,
1 abr

PS: o meu pai nem me quis ouvir qd quis tirar a carta de mota,nem qd a comprei, acabei por fazer tudo sozinho, vamos ver como reajo quando a minha piquena me pedir ...

12:48 PM  
Blogger Raquel Vasconcelos said...

Ora, ora... estamos de volta...
Pois eu... e sei que cada caso é um caso... dinheiro para uma carta de moto, talvez, afinal eles nas nossas costas realmente já o fazem.
Mas dinheiro para a moto NUNCA.
Sempre decidi que se um dia sucedesse algo não lamentaria a minha parte no processo.
Desde muito nova que penso assim. E com um irmão em casa e todas a histórias que ouvi...
A minha mãe teve sorte, ele fartou-se da moto e passou ao carro (com 2 ou três multas por n ter carta de moto, no entretanto... e aquilo era carote!).

Bjs
papá galinha :)

2:13 PM  
Anonymous Anonymous said...

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.Bom Natal e Bom Ano

10:22 PM  
Blogger Ana Luísa said...

Bom Natal e Bom Ano Novo :)
Bjs

10:02 AM  
Anonymous Anonymous said...

Encontrei este blog, já nem sei bem como, e não contive a vontade de ler todos os arquivos.
Gosto muito do que escreve e como escreve...
Os meus pais separaram-se quando tinha 8 anos, e sofri bastante com isso. No entanto, o meu pai nunca lutou por mim, não me telefona, eu combino coisas e ele falta, e nem sonha a falta que me faz!
Os seus filhos têm muita sorte, muita mesmo!

Desejo o melhor para si.

Ana

11:27 AM  
Blogger Confessionário said...

Há tanto tempo, amigo Tão só um Pai! Ainda continuas o mesmo pai...
Um ano de 2006 cheio de amor. É costume desejarmos muita saúde e paz. Mas que seria destas sem amor!?

10:23 PM  
Blogger LP said...

Passei para desejar um FELIZ ANO de 2006!

(com saudades)

11:53 AM  
Blogger Mikas said...

Sempre que visito o teu blog fico encantada com os teus textos!

Continua.
Boa sorte po pequeno!

Bacci =)*

9:30 AM  
Anonymous Anonymous said...

ola', tenho 17 anos e tenho uma motoreca de 50 cc como o seu filho.
é um perigo andar na estrada, ainda por cima com a fragilidade característica das 50 (é cada buraco). ja tive um pequeno acidente e não quero voltar a repeti-lo. e verdade que a obtenção para carta é uma palhaçada, mas até é barato. as motas só tem o inconveniente do perigo, porque de resto são uma grande vantagem em comparação aos carros. alerte o seu filho para o perigo, desde que ele seja maduro o suficiente não corre grande perigo. não pode é meter-se em acrobacias. e no que toca à situação familiar .. já passei por isso, na pele de filho pois claro. faça de tudo por ficar amigo da mãe ;) é o melhor e afinal de contas a vida continua. Abraço ! ;)

3:09 PM  
Anonymous Anonymous said...

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2:59 AM  
Blogger Unknown said...

This comment has been removed by the author.

10:29 PM  

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