Monday, January 28, 2008

des-achada, a maninha pintainha.

Nunca mais se soube dela, por estas paragens.

Da última vez que lhe ouviu a voz ficaram, um e outro, sem saber bem o que dizerem ao telefone. Ele, porque não estava à espera de a ouvir, enquanto descia as escadas e recebia os convidados para a sua festa de aniversário. Reconheceu-lhe o silêncio cúmplice da infelicidade, de quando não está bem. Tentou, atabalhoadamente, balbuciar qualquer coisa com sentido, que a animasse, que a fizesse sorrir. Procurou, à pressa, uma graça perdida na memória, mas não a encontrou.

Em pouco tempo, desde que ela voltou a casar e encontrou um novo emprego, a distância aumentou. Foi sabendo, por terceiros, que lhe ia melhor a vida, não obstante os contratempos da nova união, normais para quem está de fora, mas angustiantes para quem os vive. Congratulou-se, ao saber que ambos conversaram, que a união voltara. Isso soube-o, então, por ela. Um dia, ligou-lhe, para saber como ia. Era dia de aniversário do filhote, foi convidado, conheceu-lhe mais familia, sentiu-a feliz, bem entregue, sentiu-se, ele, feliz.

Naquele preciso momento, não havia nada a dizer, por ficar tanto por dizer, para dizer. Por o desalento ser tão audível naquele silêncio, enquanto ele, ainda de telemóvel na mão, entre dois beijos e outros tantos abraços dos convivas recém-chegados, lutava para lhe dizer que não a achava bem, que talvez fosse bom visitá-la e à família, para conversarem, pensarem. Ela deu-lhe, laconicamente, os parabéns, após o que passou o telemóvel ao marido. Este, como sempre, muito contido e, simultâneamente, um pouco mais efusivo.

A vida, por momentos, é tão difícil, que perdemos a capacidade de sorrir.
O aniversariante sabia o que é e foi ter filhos com problemas de saúde. Ser pai, ou mãe, nunca foi algo para que estejamos preparados, nestas condições. As de sofrimento, ansiedade e sobressalto. Se a isso juntarmos a imatura e gratuita violência de terceiros, sobra a vontade de desancarmos o mundo.

Ainda não decorreu muito tempo mas, para ele, já o foi demais para não saber de mais nada. Talvez, por isso, tenha começado, também, por aqui, na esperança de uma pequena, mas pouco provável, visita.

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