Thursday, February 14, 2008

Namoricos sem desgosto

de-Namoro
(Relembrado)




Quantos anos teria … cinco? … seis? Lembro-me de as ter comprado à entrada da estação, no Cais do Sodré.



Sempre detestei este dia, muito corrompido. Para mim, sempre fora o de 19 de Março, aquele em que tudo se iniciara, num suave, mas quente e longo beijo. Ah, mas este ano, todo eu transbordavade paixão. “… tenho de levar mais, afinal, são duas … e somos dois ...”. Saí mais cedo, a correr, " ... que se lixem os papéis, a mais os compromissos pseudo-inadiáveis ..."



Ah, este ano, o amor sorria-me. Caminhei, orgulhoso, de ramo farto, bonito, frondoso. No combóio todos me olhavam, sorrindo, tantos cuidados com aquele tesouro. Autocarro é que não, ficaria todo amachucado. Vamos de táxi, o que levo é precioso.



Combino com o Filho, “ … esta é para a tua namorada …. chchchchchch … , sim, a grande” (referia-me à mãe). Deixo que ele complete a sua oferenda com muitos beijinhos. Depois, entro eu, beijo a Mãe, já meio apardalada, reservo-lhe o ramo grande, “… um beijo, são para ti, meu amôr …”. A pequerrucha olhava, com um sorriso intrigado. Virei-me, ajoelhei-me, devagarinho, estendi-lhas, um raminho de três lindas rosinhas, declarei-me, “… para a minha namoradinha …”. Surpreendida, pegou nelas, trémula, e, de repente, desmoronou-se num pranto, num tal pranto, que me afligi. Abracei-a, peguei-lhe, embalei-a, “… o que foi, meu amôr … o que foi …?”. Ainda hoje, não sei, não sabemos, o que a fez ficar assim, naquele lindo dia, de namorados.

Este ano, como desde então, renovei os meus votos. "Olá, boa noite. Quero deixar um postal na caixa de correio para a Carolina. Não te importas de abrir a porta? " Que sim, concordou a mãe. Ontem, a filhota telefonou-me a agradecer o postal. Enfim, nada de mais singelo. Na capa, a imagem de três rosas com um pequenino texto, "Só três palavras importam... ". Lá dentro, ainda se lia ... "Gosto de ti... ".

Não, a filhota já não chora.

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