Tuesday, February 12, 2008

Sezões

O Carnaval foi bom. Visita a Tábua e seus arredores. Um sitio onde ele até gostaria de viver, fez-lhe lembrar a sua querida Moimenta e a barragem do Vilar. Só lhe falta o mar.

A companhia foi excelente. Sempre adorou a sobrevivência granítica das gentes beirãs. À ida, já ia febril. Nada que um cêgripe não tratasse. E a oportunidade da saída era boa demais para ser desperdiçada por causa duma febrezita imberbe. Mais a mais, o ar fresco da montanha, por vezes, tem o dom de curar tudo. Depois, era a tão almejada visita à Avó, planeada com cuidado e carinho. As netas, essas, há já uma semana que não falavam noutra coisa.

À segunda noite, percebeu que o milagre cêgripe não aconteceria. Sem problemas, preparou-se para a sua longa noite dos facas longas. Hábitos de sofrimentos e curas aprendidas com o paludismo e transpostos para as gripes europeias. Bom agasalho, febres na ordem dos 40 graus, dôres e mais dôres, qual lâminas de espadas cruelmente enterradas pela base da coluna, e por ela subindo, até trespassarem, o cérebro, dilacerando-o, indiferentes ao indescritível sofrimento. Seriam os delírios e ... paciência, os pesadelos. Sempre eles, oportunistas, aproveitando-se de todas as vulnerabilidades e prostração da fragilidade humana.
Quanto ao resto, pois lá viria uma noite gostosamente suada, com a febre exorcisada em cada espasmo de suor e dor. Certo de que, no dia seguinte, ele estaria livre das sezões e preparado para mais um dia, moído no corpo mas sorridente na alma. Pronto para se chegar à cozinha e dar mais dois dedos de conversa à Avó, enquanto planeavam e davam corpo à almoçarada, em jeito de desgarrada.
Mas ... os tempos são outros. Os vírus andam mais truculentos e difíceis de debelar. Estes, ao que parece, o seu corpo não os conhecia. Desta vez, nem uma pinga o suou. Depois duma segunda noite de tortura, atirou a toalha ás cordas e suplicou " leva-me ao hospital ". Viu-lhe o olhar assustado, o medo de reviver com ele o que passara com a mãe, no verão passado, quando acometida de súbito problema cardíaco.
Respirou fundo, guiou-o pelas consultas do centro de saúde, onde nem a medicação adicional nem as compressas, embebidas na gelada água dos canos, faziam baixar a febre. Ele tremia , rangia os dentes e tentava explicar-lhe a obcessiva falta de botões que tanto o irritaram nas mantas do seu último delírio. O RX acusava algo de suspeito, exigindo meios de diagnóstico adicionais para o confirmar, ou não, nos serviços de um hospital central. A pneumonia estava a tornar-se, este ano e por aquelas paragens, num problema crescente. "Aqui, não podemos fazer mais, vamos enviá-lo para Coimbra ". E fizeram-no. Mais análises, perguntas num sotaque doce, no das gentes locais, doce de simpatias e muito humanismo, contrastando com a aspereza e cínica ironia que testemunhara por várias vezes nos hospitais de Lisboa. Havia muita juventude diligente naquela equipa médica. Diagnóstico? O de surto gripal agudo, nada de pneumonias. Por enquanto. Um injectável para baixar a febre (" é o mesmo que aspergic ") e , milagres dos milagres, a febre começou a baixar e o corpo a suar em pinga. Finalmente, tinham-lhe devolvido o corpo, o seu corpo, a funcionar como o conhecera e conhecia, e funcionou como o sabia por mais dois dias. Gostosamente, suando e suado.
Ele sade que, como doente, não é sensato e pode, mesmo, tornar-se cínico e irritadiço, quando o sobrecarregam com mezinhas tradicionais ou lhe descarregam em cima recriminaçôes, quanto ao que fez ou deixou de fazer, pela saúde, ou contra ela. Lembra-se de, uma vez, na sua infância, ter sido açoitado enquanto sangrava abundantemente dum joelho. Numa altura em que estamos vulneráveis e frágeis, não suportamos ser, nessa altura, mentalmente açoitados, reagimos da pior maneira e nada mais desejamos do que sair porta fora, nos isolarmos e tratarmos-nos sózinhos. Como em tudo, a aprendizagem fez-se do passado, fez-se do presente, a dois, de forma solidária e indiferente aos perigos do contagio. Sem isolamentos, com amôr, assim, como ele tanto o gosta de escrever. Foi dura, prendeu-o à cama, prendeu-o à casa, saídas para tomar o café do vício, é que nem pensar , ou acaba-se já e aqui o namoro. Bolas, murmurou ele, entre dentes. Lá se fora a sua adorada e sagrada independência de eremita, o seu hábito de tudo fazer sózinho, incluindo os os descuidos na saúde. Soube-lhe bem, ter alguém que dele cuidou de forma responsável e diligente, sem se preocupar com mais nada. Quando se dão provas de estarmos em boas mãos, até o mais renitente se entrega.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

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3:24 PM  

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