Wednesday, February 13, 2008

Terapias

Não entendeu bem o objectivo.

Primeiro, entrou a mãe. Depois, chamaram o pai. O sorriso da psicóloga desarmou-o.

Não se lembra de como se iniciou a conversa. Recorda-se de ter falado dos filhos, da doença da mãe, das opções que tomou para o melhor e para o pior, sempre temendo que a mãe voltasse a passar pelo mesmo. De como optou por calar os problemas, e sentir-se feliz por chegar a casa, a horas ilegíveis, e sentir que tinha valido a pena morrer mais um dia, ao contemplar o sono dos seus três anjos. De assumir que, em relação a isto, voltaria a fazer o mesmo e suportaria todas as consequências que já conhecia. De como conheceu a mãe. Do parto, para ele traumatizante, do primeiro filho. Dos desentendimentos parentais quanto à educação deste.

"E, depois, veio a menina .." , atalhou a psicóloga. Aí, falou, como alguns falam dos tempos da tropa. Pôs um sorriso e só se calou quando a moça lhe chamou a atenção para o adiantado da hora. Pois, ainda tinha de ouvir a filha. Quando saíu, ficou confuso. Que sentido tirar de tudo o que disse? Que aquela bébé e menina o viciou numa paternidade interrompida, incompleta, deixando-lhe um vazio irreparável no seu sentido de vida? Que o ensinou a lidar e perceber o seu papel na paternidade em relação ao irmão mais velho? E depois? Podemos atenuar ou curar doenças, mas não podemos curar a vida, não é?

Suspirou. Meu Deus, nada de mim fez ou faz sentido. O que sentirão os pais a quem raptam os filhos de 8 anos? Nada disto me faz, ainda, qualquer sentido. Continuava sem as respostas de que precisava para entender onde errara nos valores que, de forma consciente, ou não, transmitira à filha. Onde lhe falhara com a sua presença e com o diálogo, apesar da separação? Onde estavam as pontas desta meada tão ensarilhada? Onde devia deixar de ser pai? Ou onde deveria passar a ser outro pai, um pai diferente? Mas que pai? Porque não vem o irmão aqui? Ainda nas férias me insurgi contra a forma verbal com que tratava a irmã, que nem podia trautear a sua música preferida, porque o incomodava. Aliás, a pobre mal poda abrir a boca e exprimir a sua opinião. Com ele a querer, sempre, decidir pelos dois. E do receio dela em estar no centro dos conflictos entre mim e ele. E, se é assim comigo, que justiça impera na casa da mãe? O que reprime ela, para proteger a paz? Quais as fontes da sua insegurança? Quais os seus receios, hoje, em relação ao futuro? Como encaram eles uma nova relação dos pais com outros companheiros? Como o inicio de um abandono?

Ficou confuso e frustrado.

1 Comments:

Blogger PARTILHAS said...

Ninguém nos dá um curso de maternidade e paternidade, nem de Amizade, nem de Amor... Somos nós, os que desenhamos, nem de pais juntos, nem separados, nem de irmãos, ninguém nos dá cursos de nada...
E mesmo os cursos, que nós pagamos, apenas nos dão as coordenadas teóricas... na prática, somos nós que os aplicamos.
E nem sempre é claro... tudo se transforma... Bom saber, que falaste e as 3 te ouviram... Muito bom! Leio 3 passos em Frente.

Um beijo

10:40 AM  

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